10 mulheres artistas da Renascença aos dias atuais

Muitos se perguntam – e me perguntam – porque existem menos mulheres artistas do que homens. Na verdade, não existem menos mulheres artistas, mas sim menos mulheres muito famosas, no topo da cadeia alimentar da arte contemporânea. E por quê? Eu acredito que não haja machismo no meio da arte, mas sim que muitas mulheres acabam não alcançando o estrelato, pois, apesar de extremamente talentosas, acabam escolhendo se dedicar à maternidade. Não que não seja possível ser artista e mãe – algumas residências artísticas até mesmo permitem que as mães levem seus filhos – mas para uma carreira de sucesso extremo, repleta de viagens pelo mundo para exposições e eventos, é claro que ter um filho significa muitos desafios e escolhas difíceis. Um artista pai, já é uma história completamente diferente, afinal, mãe é mãe. A criança nasce da mulher e é dependente dela durante muito tempo. A maioria chama a mãe quando tem um problema, não o pai.

A grandiosa Marina Abramović declarou algo parecido em uma entrevista ao Tagesspiegel. Ela disse não ter tido filhos porque tê-los significaria dividir seu corpo, objeto de sua arte, que é a performance. Ela se considera livre para poder rodar o globo executando suas performances, pois não tem marido ou filhos.

No passado, existia ainda mais dificuldade para as mulheres que desejavam seguir o caminho da criação, pois, além de a sociedade ser completamente machista, com a mulher tendo seu papel enclausurada no lar, sem trabalhar, haviam outras complicações. Em algumas épocas, escolas de arte que aceitavam garotas eram poucas, e as que aceitavam cobravam mais delas do que deles. Também, seria mal visto uma artista desenhar a partir de um modelo nu masculino, importante para o aprendizado da anatomia do homem, além de ser também um problema ficar horas a fio sozinha com um homem que deveria ser retratado, por exemplo.

Apesar disso tudo, sempre existiram algumas grandes mulheres que conseguiram abandonar as convenções, driblá-las, e ter uma belíssima carreira com a produção de obras primas, sendo cada vez mais reconhecidas e resgatadas pela história da arte atual. As apresentadas a seguir são somente uma pequena amostra do talento feminino na arte.


Sofonisba Anguissola (1532 – 1625, Itália)

Sofonisba Anguissola foi uma das primeiras mulheres a conseguir algum destaque na pintura europeia, tendo até mesmo feito uma visita à corte espanhola. De família nobre, estudou com o maneirista Bernardino Campo, e se destacou por seus belos retratos.


Sofonisba Anguissola, Retrato de Bianca Ponzoni Anguisola, mãe da artista, 1557.


Sofonisba Anguissola, Retrato das Infantas Isabella Clara Eugenia e Catalina Micaela, 1570.


Sofonisba Anguissola , As irmãs da pintora Lucia, Minerva e Europa Anguissola jogando xadrez, 1555.

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Artemisia Gentileschi
(1593 – 1656, Itália)

Uma das artistas mais importantes de sua época, Artemisia teve uma vida bastante tumultuada. Filha do pintor Orazio Gentilhesci, estudou com seu pai e posteriormente frequentou o atelier de Agostino Tassi, pelo qual ela foi estuprada. Depois de um longo processo contra seu mestre, ele foi exilado de Roma e seu pai arranjou um casamento com o modesto artista Pierantonio Stiattesi para reparar sua honra. Artemisia teve duas filhas e conseguiu bastante sucesso durante algum tempo em Florença, sendo a primeira mulher a ser admitida na Academia de Belas-Artes de Florença. Depois de enfrentar problemas financeiros, mudou-se para Roma sozinha com suas crianças, e em seguida, para Nápoles.

As dificuldades vividas fizeram com que temas mitológicos mostrando mulheres fortes, vítimas de homens, suicidas e heroínas fossem recorrentes em sua pintura de dramática, com fortes contrastes de cores violentas, repleta de influências caravagescas.


Artemisia Gentileschi, Judite decapitando Holofernes, óleo sobre tela, 158,8 x 125,5 cm, 1611-1612.


Artemisia Gentileschi, Susana e os anciões, óleo sobre tela, 170 x 119cm, 1610.


Artemisia Gentileschi, Judite e sua serva, óleo sobre tela 114 x 93,5 cm, 1612-1613.

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Élisabeth Vigée Le Brun
(1755 – 1842, França)

Élisabeth Vigée Le Brun foi uma das retratistas mais célebres e talentosas de seu tempo, tendo se tornado a pintora oficial da rainha da França Maria Antonieta. Entretanto, com a queda da monarquia durante a Revolução Francesa, ela se fugiu da França e passou por diversos países da Europa, da mesma maneira que nobres e outras pessoas próximas à realeza francesa que se sentiam ameaçados pelo novo regime. Como eles, ela acompanhou as idas e vindas da república, império e monarquia na França, terminando sua vida novamente na França, infelizmente, na miséria.


Élisabeth Vigée Le Brun, Retrato de Maria Antonieta em vestido de musselina, 1783. A pintura fez escândalo por representar a rainha com uma espécie de roupa de baixo usada sob os vestidos na época.


Élisabeth Vigée Le Brun, Retrato de Maria Antonieta, dito “da rosa”, 1783.

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Sonia Delaunay
(1885-1979, Ucrânia)

Sonia Delaunay explorou junto ao seu marido, Robert Delaunay, o tema da cor pura e do movimento das cores simultâneas, criando um tipo de pintura abstrata definida por Apollinaire como orfismo. Posteriormente, o casal desenvolveu o mesmo princípio usando tecidos e luzes.


Sonia Delaunay, Prismes électriques, óleo sobre tela, 250 x 250 cm, 1914.


Sonia Delaunay, Rythme, óleo sobre tela, 182 x 149 cm, 1938.

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Tamara de Lempicka
(1898 – 1980, Polônia)

Famosa por sua beleza, Tamara de Lempicka, abertamente bissexual, teve uma vida boêmia em Paris no início do século XX, ao lado de outros grandes nomes das artes e das letras. Sua pintura art déco se destaca pelos belos retratos de belas mulheres em cores vivas.


Tamara de Lempicka, Jeune fille en vert, óleo sobre, 61,5 x 45,5 cm, 1927 – 1930.


Tamara de Lempicka, Autorretrato no Bugatti verde.

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Frida Kahlo
(1907-1954, México)

Apesar de não se considerar feminista, Frida é uma das grandes inspirações para muitas feministas. Ela pintou a si mesma como mulher, representando seu cotidiano e emoções. Também se representou como homem em um de seus autorretratos.


Frida Kahlo, Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor, óleo sobre tela, 61 x 47 cm, 1940.


Frida Kahlo, As duas Fridas, óleo sobre tela, 1,73 x 1,73 cm,1939.


Frida Kahlo, A coluna partida, óleo sobre tela, 1944.

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Judy Chicago
(1939, EUA).

Judy Chicago é uma dos destaques da arte feminista. Uma de suas obras mas icônicas é a The Dinner Party, na qual foram colocados 39 lugares em uma mesa triangular; cada um deles representando uma mulher histórica ou mítica e 38 dos pratos possui uma vagina em estilo único colocada dentro dele. A ideia é fazer com que as mulheres conheçam as histórias e lendas de outras mulheres.


Judy Chicago, The Dinner Party, diversos materiais, 1979.

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Marina Abramović
(1946, Sérvia)

Considerada como a “avó da performance”, a artista apresenta performances de um auto controle extremo, que exploram os limites do corpo e da mente, além relação do público com o artista.


Marina Abramović, The Artist is Present, 2010, Museum of Modern Art.


Marina Abramović, Imponderabilia (With Ulay) (1977) Performance, 90 Min., Galleria Comunale D’arte Moderna, Bologna. Nessa performance, Marina e seu parceiro na época, Ulay, ficavam nus e o espectador tinha um pequeno espaço para passar entre eles, causando assim, a sensação de desconforto.

Marina já realizou atos artísticos bastante perigosos, tais como estar no meio de uma estrela em chamas ou ainda permitir que o público fizesse com ela o que bem entendesse, sem que ela pudesse revidar ou se mexer. Segundo ela, “A diferença entre teatro e performance é que no teatro o sangue é ketchup, e na performance, é real”.

O documentário The Artist is Present A Artista está Presente – foi gravado na ocasião da preparação de sua exposição de mesmo nome no MoMA, em Nova Iorque, e esclarece vários pontos interessantes sobre a trajetória da artista e sua importância na construção de sua persona atual.

https://www.youtube.com/watch?v=6FOfFW7AjLc&t=3902s&list=WL&index=1

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Cindy Sherman
(1954, EUA)

Transitando entre a atuação e a fotografia, Cindy Sherman é conhecida por seus autorretratos conceituais nos quais ela usa maquiagem, perucas e roupas para se vestir como diversos personagens, tanto femininos, quanto masculinos, e tratar temas de gênero e estereótipo. Uma dessas obras bateu o recorde de valor alcançado em leilão por uma fotografia em 2011, atingindo 3,89 milhões de dólares. Além de fotógrafa, ela também é diretora de cinema.

Cindy Sherman, Untitled #96, 61x120cm, 1981. Uma das fotografias mais caras do mundo, leiloada em 2011.


Algumas das obras de Cindy Sherman.


Cindy Sherman, Untitled, 1990. Nessa série a artista faz a releitura de pinturas antigas.

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Adriana Varejão
(1964, Brasil)

Uma das artistas brasileiras contemporâneas de maior projeção mundial, Adriana Varejão foi bastante influenciada pela arte barroca e colonial. Se expressando através da pintura, fotografia, escultura e instalação, ela pesquisou temas tais como a abstração, a ruína, o monumento, o monocromatismo, a violência; a história, as ciências naturais, a arquitetura.


Adriana Varejão, Carnívoras, óleo e gesso sobre tela, 2008.

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Bibliografia:

Michael RUSH, New Media in Art, Thames & Hudson, Londres, 2005.

ADRIANA Varejão. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17507/adriana-varejao&gt;. Consultado em: 07 de Mar. 2017. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7

Fontes e fontes das imagens:

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Dinner_Party

http://www.tagesspiegel.de/weltspiegel/sonntag/interview-mit-marina-abramovic-mit-70-muss-man-den-bullshit-reduzieren/13913260.html

https://news.artnet.com/art-world/marina-abramovic-says-children-hold-back-female-artists-575150

http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,veja-10-performances-historicas-e-polemicas-de-marina-abramovic,1644231

https://cfileonline.org/architecture-not-clay-adriana-varejao-tile-rios-olympic-swimming-pool-contemporary-ceramics-cfile/

http://www.inhotim.org.br/inhotim/arte-contemporanea/obras/galeria-adriana-varejao/

http://www.musee-virtuel.com/lempicka.htm

http://www.judychicago.com/

https://www.centrepompidou.fr/cpv/resource/c9n4RA5/r5x8ny

http://www.newsanswers.com/2016/05/27/brisbane-will-see-cindy-shermans-exhibition/

http://www.mam.paris.fr/fr/expositions/exposition-sonia-delaunay en.wikipedia.org/wiki/File:Marina_Abramovi%C4%87,_The_Artist_is_Present,_2010_(2).jpg by Andrew Russeth

 

3 comentários sobre “10 mulheres artistas da Renascença aos dias atuais

  1. Em sociedades matriarcais, o educar e cuidar de uma criança é partihado por todos da comunidade, nao somente da que gera o fruto (Nah Dove, nao lembro a data do seu texto) por tanto em sociedade patriarcais, como a europa, a mulher é a que tem o DEVER de cuidar da criança, se isso nao se configura enquanto machismo, desconheço o significado….. “Eu acredito que não haja machismo no meio da arte, mas sim que muitas mulheres acabam não alcançando o estrelato, pois, apesar de extremamente talentosas, acabam escolhendo se dedicar à maternidade.” ora ora. muitas artista nao conseguia exito por a mulher nao era bem quista na sociedade… é tao contratório quando você dá exemplos de artista que sofrem com o machismo e diz que nao acredita no machismo nas artes… pelo amorde, né mulher?

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