A produção russa da obra conterrânea Lady Macbeth do distrito de Mtsensk de Shostakovich teve uma passagem relâmpago pelo teatro municipal de são Paulo na terceira semana de julho. De terça a domingo, alterando as cantoras, o elenco principal vindo da Rússia contracenou com o Coro Lírico Municipal (brasileiro) ao som da Orquestra Sinfônica Municipal, se apresentando magistralmente.
Eu claramente conhecia Lady Macbeth, esposa do personagem título de uma peça de Shakespeare que se passa na Escócia medieval. Porém, eu não estava familiarizada com esse tal de Mtsensk. Trata-se de um uma pequena cidade na qual se passa a história de Katerina Lvovna Izmaylova, personagem inspirada pela Lady Macbeth do dramaturgo elisabetano e escrita por Nikolai Leskov. A história da Lady Macbeth em questão é diferente da sua inspiradora – sua semelhança está mesmo na personalidade marcante e belicosa. O drama se passa no século XIX e mostra a esposa de um rico comerciante entediada com sua vida, que então encontra um amante na pessoa de um funcionário de seu marido. Pode parecer chato, mimimi e dramático demais, mas é uma ópera extremamente divertida, cheia de energia e até violência – com direito a assassinato. O ar de comédia é introduzido por vários elementos, inclusive as alusões sexuais bastante explícitas e personagens caricaturais, tais como Aksinya – a empregada propositadamente figurada como uma mulher cheia de libido, característica que alguém do sexo feminino claramente não deveria possuir na época.
Além da diversão, a nível mais profundo, trata-se de uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, em um tempo no qual a mulher era vista como fraca, uma eterna “menor” que passa do pai ao marido, tal qual na sociedade grega – enaltecida pelo Novo Império de Napoleão. A emancipação da mulher simplesmente não havia acontecido.
Como era de se esperar, a obra causou furor quando foi apresentada pela primeira vez na Rússia soviética dos anos 40 e o compositor recebeu severas críticas do governo comunista.
Seja pela diversão ou pela reflexão, se viajando por aí, você encontrar a produção em cartaz, não hesite: assista!
Ficha técnica:
Produção da Ópera Helikon de Moscou
Vladimir Ponkin – direção musical e regência
Dmitry Berman – direção cênica
Igor Nezhny e Tatiana Tulubieva – cenografia e figurinos
Katerina Lvovna Izmailova – Elena Mikhaylenko (12, 14 e 16/7) / Anna Pegova (13, 15 e 17/7)
Sergei – Vadim Zaplechny (12, 14 e 16/7) / Ilya Houzich (13, 15 e 17/7)
Boris Timofeevich Izmailov / Sentry – Alexey Tikhomirov (12, 14 e 16/7) / Dmitry Skorikov (13, 15 e 17/7)
Zinoviy Borisovich Izmailov – Dmitry Ponomarev (12, 14 e 16/7) / Igor Morozov (13, 15 e 17/7)
Sonyetka – Larisa Kostyuk (12, 14 e 16/7) / Ksenia Vyaznikova (13, 15 e 17/7)
Policial / Inspetor de polícia – Petr Morozov
Aksinia, mulher condenada – Maiia Barkovskaia
Camponês – Mikhail Seryshev
Padre / Idoso Condenado – Mikhail Guzhov
Trabalhador do Moinho – Dmitry Korotkov
Vigia / Vendedor / Primeiro Trabalhador – Andrey Orekhov
Cocheiro / Segundo Trabalhador / Professor – Vitaly Fomin
Convidado bêbado / Terceiro Trabalhador – Anton Kurenkov
Revisado por Jay de Araújo
Fonte da imagem de capa: Heloisa Ballarini / SECOM
http://revistavisoesurbanas.com.br/2016/07/14/temporada-de-lady-macbeth-do-distrito-de-mtsensk-no-theatro-municipal-de-sao-paulo/