Thando Hopa, de 25 anos, nasceu em Joanesburgo, África do Sul, e é advogada – por esta perspectiva, é fácil considerá-la uma jovem comum, certo?
Sim, se não fosse o albinismo.
Como todos os albinos nascidos na África (e pode-se dizer no mundo), ela foi alvo de superstições, assédio moral e preconceitos.
Thando então foi convencida pelo designer Gert-Johan Coetzee a entrar no mundo da moda para tentar desafiar as percepções convencionais de beleza.
(Hopa e Gert-Johan Coetzee)
Ela disse: “Eu tinha sido chamada anteriormente para ser modelo, mas eu não quis porque não enxergava os benefícios. Pensava: ‘É uma profissão tão superficial – por que eu iria querer fazer isso, sendo uma advogada?’”.
Depois de cruzar caminhos com Gert, em 2012, começou a pensar de forma diferente.
“Gert veio até mim e me perguntou se eu gostaria de fazer uma sessão, e eu disse que iria considerar o convite”, lembra Hopa. “E então eu falei com minha irmã, que disse: ‘Não olhe para a Moda como ‘apenas Moda’… Olhe como uma oportunidade para que você possa realmente mudar a percepção do albinismo. Lembre-se de como você cresceu. Lembre-se de como as pessoas realmente trataram você.”
‘Eu finalmente decidi: beleza é uma decisão e eu vou ser bonita, apesar do que as pessoas dizem. Meu slogan agora é “um tom diferente do normal” (a different shade of normal, em inglês).
Sendo a primeira dos quatro filhos, Thando herdou a despigmentação da pele, o que também aconteceu com um de seus irmãos mais novos. A mãe, cineasta apaixonada, e o pai engenheiro amoroso, sempre se esforçaram para que os filhos não tivessem má impressão de sua aparência, dizendo sempre a ela que era “a mais linda garotinha”.
Mas fora do santuário da casa de sua família, muitas vezes sofreu preconceito e incompreensão.
Estranhos supersticiosos a abraçavam, como um símbolo de boa sorte, outros cuspiam contra a má sorte que ela poderia representar.
Professores descaracterizaram sua deficiência visual – um efeito colateral do albinismo – entendendo como se ela sofresse de algum problema mental.
Ela contou ao Serviço Mundial da BBC: “Meus pais tinham se esforçado muito para que eu não me sentisse diferente, mas quando eu fui para a escola, as crianças começaram a agir de maneira estranha comigo, chamando-me de certos nomes. Conforme o tempo passou, eu notei pessoas mais velhas fazendo também coisas que eu não entendia. Uma vez, quando tinha uns sete anos, uma mulher me parou na rua e começou a gritar, dizendo que eu era filha do demônio. Eu me senti tão isolada. Afetou-me tão fortemente que eu disse à minha mãe que eu não ia mais para a escola.”
Hopa diz que, com o apoio da família, percebeu que não deixaria a opinião das pessoas sobre ela a atingissem – mudou de mentalidade e trabalhou duro para tornar-se advogada. Em seguida, criou coragem para tentar a carreira de modelo.
Desde então, ela tem feito inúmeras sessões, desfilou por famosas passarelas e foi capa da primeira Forbes “Life Africa”.
Como costuma evitar saltos, ela disse que sua primeira experiência na passarela vestindo-os foi aterrorizante, especialmente por causa de sua visão.
Ela lembra: “O vestido era lindo, preto e verde – eu posso te dizer, eu nunca tinha me sentido tão ‘cara’ em minha vida – mas estava realmente tão assustada! Na verdade, era a primeira vez que eu realmente vestia saltos – então eu fiz uma pequena oração enquanto caminhava: ‘Deus, por favor, não me deixe cair nesta passarela! ’”
Graças a esta experiência, Thando disse que sua confiança aumentou – depois de muito tempo sentindo que deveria esconder sua pele pálida sob roupas e maquiagem pesada.
‘Eu não conseguia sair sem maquiagem, mas como o tempo passa, a confiança cresce. Demorou anos para eu chegar a um ponto onde eu poderia andar por aí sem make-up. ”
Ela também se sente encantada com o efeito que sua posição como modelo teve sobre os outros.
“As pessoas me dizem que eu tornei-me uma influência positiva para os seus filhos, para que eles vejam que eles podem ir além de suas circunstâncias”, finaliza.
Fontes:
http://www.bbc.co.uk/programmes/p02tfw30?ocid=socialflow_twitter