Se te ausentas há paredes em mim.
Hilda Hilst
A obscena senhora D (1982), de Hilda Hilst, é a história da solidão. Ao desistir do convívio com os demais, Hillé, a protagonista, rompe com sua vida pregressa e com os laços afetivos que a permeavam. Embora toda a narrativa seja baseada em lembranças, percebemos um grande esforço por parte da narradora em não criar novos laços.
Todavia, o novo universo particular de Hillé tem alguns pontos de intersecção com o antigo, que são simulacros de uma antiga felicidade, como por exemplo o aquário onde a personagem repõe periodicamente peixes de papelão quando eles se desmancham na água. Os peixes de papelão substituem os verdadeiros que morreram na mesma época em que o seu companheiro. O papel se dilui, como os afetos. Os peixes são uma analogia à vida que não mais está presente naquele aquário, bem como na casa. O que resta é apenas a senhora D. “D” de derrelição, que significa abandono.
Podemos entender a mudança de Hillé para o vão da escada, como um subterfúgio para escapar da morte, com a qual mantém contato através de Ehud, o companheiro morto. Ou seria uma preparação para ela?
O vão da escada é o seu lugar sagrado. É através dele que Hillé se priva do contato com o mundo externo. É através dele que ela entra em contato consigo mesma, numa precariedade de condições lhe fazem vivenciar o aspecto mais animalesco, e também o mais cruel da condição humana: o abandono e a indiferença.
Referência de imagem:
http://www.paginab.com.br/cultura/hilda-hilst-uma-feminista-nata-nos-anos-50/
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Muito bom. Pretendo ler!
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