Temos em À beira-mar, filme de 2015, um casal às vésperas do divórcio, na ficção e na realidade. O drama, que tem como cenário uma bela paisagem do litoral francês, conta a história de duas pessoas que vivem juntas há mais de uma década, mas que não conseguem permanecer no mesmo ambiente nem por alguns minutos. Vanessa (interpretada por Angelina Jolie) é uma bailarina aposentada, que parece estar nos últimos estágios da depressão, enquanto o Roland (interpretado por Brad Pitt) é um escritor alcoólatra, que movido pela dificuldade na escrita de seu novo romance, viaja com a esposa para o hotel paradisíaco à beira-mar. Porém, nem a natureza exuberante do local consegue conciliar os ânimos do casal.
Durante uma boa parte da trama, somos levados a acreditar que a crise do casal se dá em decorrência do vício do marido, porém aos poucos, após algumas pistas falsas, como as intermináveis cenas de voyerismo nas quais os personagens espiam o quarto ao lado – através de um buraco na parede, que em nenhum momento do filme tem o seu surgimento explicado – um casal de jovens recém-casados, que felizes e apaixonados, são um espelho inverso dos protagonistas.
O ritmo do filme é arrastado, com cenas repetitivas de brigas que não levam a lugar algum, e a história é repleta de clichês, como o do escritor alcoólatra que não consegue escrever, mas o final consegue ser ainda pior. Depois de muito choro e discussão, descobrimos que a culpa de todos os problemas do casal é da mulher. O marido é apenas um homem infeliz no casamento que recorre ao álcool como escape. A minha surpresa maior foi descobrir que o filme foi dirigido por Angelina Jolie, que é também a roteirista. Que a mulher vem sendo representada entre dois polos ao longo dos séculos na literatura – ou é a virgem santa e ingênua ou a prostituta ambiciosa que arruína as famílias e destrói os homens – todo mundo já sabe. Mas essas representações são feitas por homens. Agora, que uma mulher caia nessa armadilha e se represente como uma personagem plana, que por não cumprir um papel determinado pela sociedade se transforma numa criatura malévola (para não perder a piada) é de se estranhar.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Ur7poNRQtx8
Referências das imagens:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-228709/trailer-19546267/