A literatura é realmente fantástica. Diz-se aqui não como gênero, mas como aquilo que ela representa. A sua influência, o seu poder, a sensação contagiante que acomete todo aquele que desfruta do prazer da sua leitura. O que a literatura proporciona é algo único, e esse algo está presente em tudo aquilo que decorre desse efeito, espécie de energia, inerente do âmbito literário. Assim, a partir desse poder central que fundamenta e move o espírito literário, várias são as situações, circunstâncias, ocasiões, fenômenos, atos e fatos que estão ligados pelo elo literário, de modo que se pode dizer que tudo o que envolve a literatura se situa no todo literário, ou seja, os efeitos que se vislumbram em situações específicas são meros reflexos daquele poder que erige e estabelece o mover literário. É por isso que se diz que a literatura é fantástica, pois proporciona todo esse efeito inerente e decorrente como pouquíssimas coisas outras fazem.
Dentre as tantas maravilhas que se pode observar no todo literário, tem-se aquela sensação agradável de lembrar de alguém quando se está lendo algum livro. Uma passagem que faz recordar alguém, um título que lembra aquela pessoa, o autor favorito daquele sujeito que acaba sendo associado ao escritor cada vez que se ouve falar nele, enfim, as possibilidades são tamanhas, evidenciando que o fato de alguns livros lembrarem algumas pessoas constituem parte do fenômeno da energia literária.
Uma divisão aqui se faz possível. Há os fatores externos e os fatores internos, ou ainda objetivos e subjetivos, que podem assim ser estabelecidos para melhor abranger o ato da lembrança de pessoas pelos livros.
Num primeiro ponto estariam os fatores externos, ou fatores objetivos, que constituiriam uma camada presente na superfície daquilo que liga uma obra literária à pessoa recordada. É o caso daquele indivíduo que abertamente se diz fã de determinado autor, que vive comentando sobre as obras do seu escritor favorito e que não mede esforços para deixar claro o seu apreço pela literatura em questão. Não é difícil ocorrer então uma lembrança sobre essa pessoa quando algum amigo, familiar ou conhecido se depara com algum livro do referido autor. A lembrança pode surgir inclusive ao se ouvir uma mera menção do escritor, momento em que aquela pessoa aparece instantaneamente como lembrança. É em razão disso que se fala aqui em objetividade ou externalidade, pois o conhecimento do conteúdo externo – da obra e da pessoa – é suficiente para que a associação ocorra e a lembrança de alguém a partir de um livro ocorra.
Já num segundo ponto estariam os fatores internos ou subjetivos, onde o liame entre obra e pessoa recordada é muito mais fino, muito mais moldado, melhor trabalhado, e que, justamente por conta da singularidade desse elo, acaba sendo percebido por poucos. É que para que ele exista, é necessário que pelo menos duas pessoas contribuam nesse sentido, intencionalmente ou não. Duas pessoas devem ter proximidade suficiente para que se conheçam para além do nível da superficialidade. Trocas de experiências, afeto, intimidades compartilhadas, segredos confidenciados, conversas profundas, enfim, uma relação, qualquer seja o tipo – de amizade ou amorosa-, mais madura e robusta. Assim havendo, esse grau de proximidade suficiente entre duas pessoas, é possível que a lembrança literária – da pessoa pela obra – surja em diversas situações próprias. Imagine-se o cenário em que alguém lê determinada obra na qual tenha uma personagem que lembra muito uma amiga. Ao tomar contato, pela leitura, com aquela personagem que possui características semelhantes à sua amiga, o leitor desfruta daquela sensação agradável surgida pela lembrança que ali ocorre. Também pode acontecer de igual modo quando um rapaz lê determinada passagem em algum livro que faz com que lembre da sua mulher amada. Pode ser uma cena, a descrição de um lugar, uma piada ou qualquer outra situação narrada na obra que acaba fazendo com que a lembrança de sua companheira surja ali naquele mesmo instante. Mais uma vez, o que se tem aqui é uma sensação única, aprazível, que torna a própria leitura ainda mais agradável.
Esse ato de lembrar de alguém através de algo é um fenômeno que se faz presente em diversas situações do cotidiano, sabe-se disso. No cinema, na escola, no trabalho, no ônibus e em tantas outras situações e lugares é comum se deparar com coisas que fazem que com lembranças de certas pessoas surjam. Mas é inegável que quando isso acontece no âmbito literário, o gostinho do deleite é único, pois característico do universo da literatura.
Sobre aquele livro que te lembrou alguém, como foi?
Fonte da imagem:
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