Há formas e formas de escrever, as quais acabam por definir aquilo que podemos chamar de estilo do escritor. Diz-se assim daquilo que é característico, que se reconhece como sendo de alguém quando da leitura de algumas linhas ou páginas. O estilo pode ser a marca que o autor deixa na obra, a assinatura que o escritor evidencia em sua escrita, o visível que vai além das palavras escritas em uma folha.
O estilo na escrita está além e aquém das convenções linguísticas. Não se trata da inobservância de regras de linguagem e de preceitos de escrita. Mas também pode existir alguns rompantes, intencionais ou não, que surgem quando do ato de escrever por parte de alguns autores, tendo-se justamente aí aquele algo que acaba por definir o próprio estilo. É no próprio texto que reside o estilo da escrita de cada autor.
Pela forma de se dizer as coisas, pelo modo com o qual se narra, pelo jeito que se escreve algo é possível identificar autoria do texto quando já há ali uma espécie de identificação que remete ao autor. Nem sempre isso acontece, claro, mas com alguns caricatos isso é possível, uma vez que tendem a deixar suas marcas no papel.
Em qualquer curso, aula ou até mesmo em dicas dadas a respeito da escrita, sobre como escrever bem e melhor, costuma se sugerir que parágrafos longos sejam evitados. É que as muitas linhas que se situam num mesmo âmbito de um texto, que assim estejam sem que haja qualquer espécie de divisão que não aquela entre os pontos, tendem a tornar a leitura mais cansativa, mais emaranhada ou mais complexa. Claro que isso não é uma regra, pois é possível escrever bem se utilizando de parágrafos longos. Ainda assim, a orientação geral, por assim dizer, determina que não se abuse com parágrafos muito extensos quando da escrita de um texto.
Basta pensar em Saramago para se ter um exemplo de que a não observância de determinada convenção pode se tratar de um dos fatores que definem aquilo que vem a ser conhecido como estilo. O Nobel de 1998 pode ser identificado, dentre outros elementos presentes em sua escrita, justamente pelos seus longos parágrafos que não poucas vezes duram por várias e várias páginas.
Escritores notórios acabam sendo identificados por conta do seu estilo de escrita, uma vez que, de alguma forma, acabam sempre deixando a sua marca registrada nas tantas linhas que escrevem. Assim pode se dizer de Machado de Assis, Stephen King, Clarice Lispector, Charles Bukowski e tantos outros. Há um algo que é deixado ali pelo próprio autor, estando à disposição do leitor para que possa conhecer e sempre reconhecer a autoria daquilo que é lido, situando-se assim num processo de compreensão e identificação.
Alguns autores não necessitariam sequer assinar suas obras, pois a própria escrita, considerando o estilo ali evidenciado, constitui-se em assinatura. Como mencionado acima, o estilo aqui pode ser considerado tanto um rompante das normas linguísticas (Clarice Lispector inicia “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres” com uma vírgula) quanto uma estrita observância de suas diretrizes, mas que possui todo um corpo ou formato próprio que acaba por se distinguir a ponto de se ter ali um algo único e identificável (o estilo rebuscado da escrita de Machado de Assis acaba tornando seus textos reconhecíveis antes mesmo de se anunciar a autoria). Daí que, seja qual for a forma pela qual um texto passa a ser reconhecível como cria certa de seu autor, o que se tem é que o estilo que é adotado constitui e passa a definir o próprio escritor.
Ao que parece, ao se escrever algo, deixa-se ali, no texto, um pedaço de si mesmo. Sempre que o ato de transpor palavras para o papel acontece, uma marca também é transporta. Essa marca é aquela que fica impregnada no escrito. Algumas são mais fortes (quando se tem o estilo já consolidado), outras nem tanto. Mas ela sempre está ali presente: cabe ao leitor enxergá-la pra que a compreensão aí surja.
Fonte da imagem:
https://viverdaescrita.com.br/wp-content/uploads/2017/04/O-que-o-seu-estilo-de-escrita-revela.jpg
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Isso tudo pode se resumir naquilo que podemos chamar “Ideoleto”
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