A maioria dos contos de fadas que conhecemos têm origem em histórias folclóricas europeias, que remontam à Idade Média. Em sua origem, essas histórias não tiveram simplesmente a função de divertir as crianças (vale lembrar que somente a partir do século XVII é que as crianças passaram a serem vistas como crianças e não como adultos em miniaturas). Sendo assim, podemos adivinhar que os detalhes mais macabros dessas histórias não foram suprimidos nos contos originais. Muito pelo contrário, essas histórias foram construídas com um caráter educativo, ou melhor moralizante.
No século XVII, o autor italiano Giambattista Basille escreveu a obra “Lo cunto de li cunti”, também conhecido como “Pentamerão”, onde reunia diversas fábulas, entre elas, estórias como Rapunzel e A bela adormecida, publicadas no dialeto napolitano. Algumas destas obras posteriormente foram publicadas, por Charles Perrault, autor francês conhecido como “Pai da literatura infantil”, pelos Irmãos Grimm e por Hans Christian Andersen.
Os Irmãos Grimm, influenciados pelo romantismo e nacionalismo romântico, compilaram várias histórias que acreditavam fazer parte, exclusivamente, da cultura germânica, mas que eram comuns a outras partes da Europa, como a Chapeuzinho Vermelho, por exemplo.
Então, vamos ver como eram alguns dos contos de fadas?
A pequena sereia
Publicada pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, em 1837, A Pequena Sereia é uma história trágica e violenta. Na versão original, a Bruxa do Mar corta a língua de Ariel e por isso a pequena sereia fica muda. Na versão mais conhecida, que deu origem ao filme da Disney, Ariel entrega a capacidade da fala em troca das duas pernas. Não é a magia que transforma a cauda de Ariel em duas pernas e, sim, um corte feito pela bruxa. A cada passo, as pernas de Ariel doem e deixam um rastro de sangue. Para que a bruxa permita que Ariel volte a ser uma sereia, as irmãs arrancam os próprios cabelos e os oferecem a ela, porém, em troca dos cabelos, a bruxa entrega a elas uma faca para que a sereia mate o príncipe, que à essa altura, já está com outra. De acordo com o pacto, se Ariel não conseguisse conquistar o príncipe, ela perderia a alma e se transformaria em espuma do mar. E foi isto que aconteceu, pois ela não conquistou o príncipe e, muito menos, teve coragem para matá-lo.
A bela adormecida
O título original dessa história escrita por Giambattista Basile era Sol, Lua e Tália (1634), mais tarde, em 1697, ela foi recontada por Charles Perrault , sob o famoso título “A bela adormecida.”
No conto original, Tália, ao nascer, recebe a profecia de que uma farpa de linho lhe causaria um grande mal. Um dia, ela vê uma mulher fiando e acaba pedindo para aprender a fiar. Quando a farpa entre no seu dedo, ela cai aparentemente morta. O pai da moça, um grande proprietário de terras, não suportando a ideia de enterrar a filha, envia o corpo para uma outra propriedade.
Um dia, um rei que estava caçando na região viu tália como se estivesse morta e a estupra. Depois, ele a abandona no mesmo lugar onde a encontrou. Do estupro, nasce um casal de gêmeos. Tentando encontrar os seios, uma das crianças acaba chupando um dedo da mãe, justamente o da farpa. Ao acordar, Tália, descobre que é mãe de um menino e uma menina, a quem chama de Sol e Lua.
Tempos depois, o rei retorna ao local e encontra Tália e seus filhos. Porém, ele não pode ficar com ela porque já é casado. Quando a esposa do rei descobre sobre a outra família do marido, ela manda capturar Tália e os filhos. Ela pede ao cozinheiro que cozinhe as crianças e sirva ao marido, mas o cozinheiro cozinha duas ovelhas. Quando Tália estava prestes a ser queimada viva, começou a gritar e seus gritos foram ouvidos pelo rei. No final, ele mandou queimar a esposa. Moral da história: “Pessoas afortunadas são abençoadas pela fortuna, ainda na cama.”
Branca de Neve
Na história da Branca de Neve que nós conhecemos, a rainha manda o caçador matá-la e trazer seu coração como prova. O caçador não consegue fazer isso e lhe traz o coração de um cervo. No conto original, a rainha manda buscar também o fígado e os pulmões de Branca de Neve, que seria servido no jantar. Também no conto original, a princesa, engasgada com a maça, acorda com o balanço do cavalo do príncipe, enquanto era levada para o castelo. O mesmo caso da Bela Adormecida: um homem encontra o cadáver de uma mulher em algum local e, como não há ninguém por perto, ele resolve se apropriar do corpo. Na versão dos irmãos Grimm, a madrasta é forçada a usar sapatos de ferro em brasa e dançar até a morte.
Cinderela
É um conto muito antigo, cujas origens remontam à Grécia, no século I a.C., escrita por Strabo. A protagonista se chamava Rhodopis e não Cinderela. A história era muito parecida com a atual, com exceção dos sapatinhos de cristal e da abóbora. Por trás da história da jovem que se casa com o príncipe após provar ser a dona do sapatinho, há uma versão bastante sinistra produzida pelos irmãos Grimm: nela, as irmãs de Cinderela cortam partes dos próprios pés para que eles caibam no sapato de cristal. O príncipe é avisado do truque das irmãs por dois pombos, que bicam os olhos das irmãs, que ficam cegas.
Os três porquinhos
O conto original é mais curto, já que o Lobo Mau não perde tanto tempo assoprando casas. Logo no início do conto, ele devora os dois primeiros porquinhos.
O terceiro porquinho é o mais esperto de todos. Sem conseguir destruir a casa de tijolos, tenta trazer o porco para fora de casa, prometendo comida. O porco recusa todas as ofertas. O lobo decide então apelas para a violência mais uma vez. Ele escala a parede e entra pela chaminé. Porém, o porquinho havia colocado um caldeirão de água fervendo na lareira. O porquinho mais esperto come o lobo e os dois porquinhos que estão em sua barriga.
Referências:
A psicanálise dos contos de fadas, Bruno Bettelheim, Editora Paz e Terra, 2009.
Contos de Grimm, volume 1 e 2, L&PM Pocket, 2004.
Referência de imagem:
Site: Catraca Livre.
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