Particularmente adoro o Dalí e me interesso muito por psicologia e psiquiatria, então assistir à peça Histeria, que coloca em cena o encontro histórico entre o mestre do surrealismo e Freud, era um destino inevitável. Outro aspecto que me chamou atenção foi o nome do diretor: Jô Soares, do qual sou super fã tanto como apresentador quanto como escritor, lúdico e cheio de intelectualidade. Dentre os atores também estão talentos que aprecio de longa data como Cassio Scapin – o Nino do Castelo Rá-Tim-Bum – e Pedro Paulo Rangel, além da recém-descoberta por mim, Erica Montanheiro, a histérica que simplesmente rouba a cena. Por fim, o ator Milton Levy, representa um médico judeu amigo de Sigmund Freud.
A obra foi escrita pelo inglês Terry Johnson e estreou no ano de 1993, tendo sido traduzida e representada em vários outros países desde então. A história que ele nos conta se passa no ano de 1938, quando o fundador da psicanálise, já consagrado, idoso e sofrendo do câncer que o levaria a sua morte, se mudou para Londres fugindo dos nazistas, já que ele era judeu. Durante sua estada londrina, recebeu a visita do jovem prodígio surrealista Salvador Dalí, então na casa dos 30 anos. O pintor espanhol admirava muito o trabalho de Freud, sendo a exploração do inconsciente um aspecto básico do surrealismo daliano. Esse encontro realmente aconteceu, porém os dois personagens saíram dele extremamente decepcionados com suas impressões um do outro e o que nos resta é o retrato pintado de Sigmund por Salvador.
Além do pano de fundo histórico, a peça, é claro, coloca sua própria dose de humor e situações inéditas acontecem. Para quem conhece um pouco de psicologia e psicanálise, há várias piadinhas sobre o assunto, inclusive as alusões a Jung, discípulo de Freud que rompeu com o mestre e fundou sua própria corrente de estudo. Freud não gostava muito dele depois disso e o humor não deixa passar a deixa. Porém, para os espectadores mais leigos no assunto, a peça se auto explica em seus elementos de base e as risadas são igualmente fáceis, sobretudo devido ao talento de Erica Montanheiro e Cassio Scapin – representar Dali é a cara dele e o personagem historicamente caricatural é um belo trunfo.
Entretanto, não é só de comédia que vive o homem. Questões mais profundas e intimamente ligadas aos estudos freudianos, sobretudo à sexualidade na infância, também vem à tona, tornando a experiência ainda mais interessante.
Passando a questões práticas, essa temporada no Teatro TUCA, em São Paulo, acaba no dia 31 de julho, mas os espectadores que ainda não a viram ou querem revê-la, terão mais uma oportunidade no Teatro Frei Caneca, a partir de 30 de setembro. Simplesmente IMPERDÍVEL!
Reestreia 30 de setembro (até 20 de novembro) no Teatro Shopping Frei Caneca
Rua Frei Caneca, 569 / 7º andar
Sextas e Sábados às 21h | Domingos às 19h
Ingressos: R$ 80
Duração: 115 minutos
Recomendação: 14 anos
Ficha Técnica:
Texto: Terry Johnson
Tradução e direção: Jô Soares
Produção: Rodrigo Velloni
Elenco: Pedro Paulo Rangel, Cassio Scapin, Erica Montanheiro e Milton Levy
Diretor assistente: Mauricio Guilherme
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Chris Aizner e Nilton Aizner
Figurino: Fábio Namatame
Música Original: Ricardo Severo e Eduardo Queiroz
Videografismo e Mapping: André Grynwask e Pri Argoud
Fotografia:Priscila Prade
Direção de Arte Gráfica: Giovani Tozi
Produção Executiva: Adriana Souza e Barbara Dib
Assistente de produção: Daise Sena e Bruno Gonçalves
Administração financeira: Vanessa Velloni
Realização: Velloni Produções Artísticas
Revisado por Juliana Skalski