Recentemente, o termo política tem sido fortemente ligado aos veículos partidários, gerando uma grande disputa entre esquerda x direita, reacionário x progressista, etc. Entretanto, tratar política como algo exclusivamente partidário, significa reduzir o conceito, empobrecê-lo.
Se procurarmos no dicionário o significado de política, vamos encontrar a seguinte definição: “1) arte ou ciência de governar; 2) arte ou ciência da organização, direção e administração de nações e Estados; ciência política”. Das definições apresentadas, podemos tirar algumas conclusões. A primeira delas é: política é arte. E tratar algo como arte quer dizer dar um peso que habitualmente não damos. Quando se vê a política como arte ou, sendo mais específico, como arte de governar, pretende-se atribuir-lhe uma finalidade teórica e/ou prática, uma realização consciente e o envolvimento de um conjunto de procedimentos com técnicas e objetivos específicos.
Em segundo lugar, política é ciência da “organização, direção e administração de nações e Estados”. Para se partir de um ponto de vista científico, a política deve ser vista a partir de um conhecimento aprofundado. O que isto quer dizer? Quer dizer que é preciso pesquisa, observação, descrição, método, etc.
Acrescentamos à noção de política uma terceira: ela é micro, isto é, ao falar em política, não devemos excluir as micropolíticas presentes no cotidiano. Como assim? Ora, pensemos juntos: as relações estabelecidas no trabalho ou com familiares, não são políticas? Os acordos feitos no condomínio, as negociações com os pais para poder ir em uma festa bacana com os amigos, os pedidos para o professor reconsiderar determinada questão da prova, tudo isso não é fazer política em seu nível micro?
E sobre os conceitos vistos no dicionário, de uma política como “arte” ou “ciência”. É possível ver a arte e a ciência em nível micro, como também é uma possibilidade considerar que essa definição ocorra apenas em seu nível macro. A questão é que, independente de qual das definições escolha (ou se escolha todas elas), qualquer uma das ideias apresentadas não se resumem ao espectro político-partidário. É claro que muitas coisas do cotidiano são utilizadas como base para sustentar discursos nos três poderes da república. Porém, ao ver a política em seu nível micro, nos assumimos como seres políticos, ao invés do confortável e problemático termo “apolítico”.
Ao se definir como “apolítico”, no dia a dia ou nas artes, você se torna conivente de atitudes no mínimo duvidosas, como por exemplo, as recentes propostas de silenciamento de professores em sala de aula ou o fechamento de exposições em museus.
Pensar como um ser político não é, necessariamente, concordar ou discordar de tudo. É, no mínimo, pensar as relações de poder em nível micro não se dissociando do macro. E o que isso tudo significa? Como diriam os gregos, a política parte do governar a si para depois governar os outros. E governar a si não quer dizer definir meus próprios valores e leva-los aos outros. Trata-se, muito pelo contrário, de questionar sempre seus próprios valores, sua própria política e refletir tanto no micro quanto no macro o funcionamento dessas relações de poder e, consequentemente, políticas.
Realmente ótimo, bem didático, e elucidativo.
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