Metáforas – o que são?
Mesmo após se estabelecer ou definir o que é a metáfora, a sua utilização num texto, numa fala, num discurso, num diálogo, num debate, enfim, em qualquer forma de se expressar, é comportada em qualquer ambiente?
Sempre estranhei o uso de algumas metáforas, seja por estarem descontextualizadas, seja por eu não captar o seu referencial. “Estou mais feliz que pinto no lixo”: essa pode arrancar alguns risinhos ou resultar num olhar inexpressivo de incompreensão – nessas duas situações, a compreensão intentada (ou não, no pior dos casos) não logrou o seu êxito. Culpa de quem?
A metáfora é um excelente artifício da linguagem que pode ser muito útil em qualquer conversação, dando muitas vezes toda uma profundidade própria para a mensagem que se busca transmitir pelo diálogo, mas é também uma face de dois gumes (olha ela aí…), pois caso seja utilizada de maneira inadequada, pode matar todo um belo texto.
Quando emprego uma palavra que designa certa qualidade ou objeto diverso daquela qualidade ou objeto designado no contexto em que digo algo, se assim eu fizer de modo que haja uma relação de semelhança entre um e outro, pode ser o caso de eu estar utilizando uma metáfora por algum motivo que eu entenda adequado. Destaco que utilizo o termo aqui do modo mais amplo possível, incluindo várias formas de figuras de linguagem – aceitando o risco de eventuais correções e críticas que sejam feitas pelos leitores nesse sentido.
É daí que posso dizer, por exemplo, que estou dando murro em ponta de faca quando pretendo referir que estou tentando ou insistindo em algo cujo resultado é esperado como inexitoso.
As metáforas, portanto, têm seu justo, devido e elogiável espaço enquanto figura de linguagem. Mas até que ponto é possível dizer que elas comportam aplicação em toda e qualquer situação?
Como disse, sempre estranhei algumas determinadas metáforas e seus usos – principalmente aquelas que estão inseridas enquanto jargões populares e são utilizadas desmedidamente, muitas vezes sem que a própria pessoa que as profere entenda o seu significado. Mas foi com a leitura do livro ” Truques da Escrita: para começar e terminar teses, livros e artigos”, de Howard S. Becker, que passei a refletir sobre a questão de modo mais pormenorizado, ou seja, questionando quando e se de fato cabíveis as metáforas em determinadas situações e contextos.
Howard S. Becker aduz que há duas formas de metáfora – aquela que é utilizada de modo adequado e a que não observa suas implicações. Diz o autor que “a diferença entre os dois tipos de metáfora consiste na seriedade e atenção com que elas são usada. Não me refiro à seriedade com que os autores tratam o tema, mas à seriedade que dedicam aos detalhes de suas metáforas” (SIC).
Para o mencionado autor, “uma metáfora que funciona ainda está viva”. E de fato, basta lembrarmos daqueles “jargões metafóricos” que são ditos e ouvidos cotidianamente sem que seja dada a devida atenção para a forma do seu uso. Esses “chavões” são realmente compreendidos por quem os fala ou por quem os ouve? O contexto no qual foram criados ainda se faz presente na sociedade atual? Tenho lá minhas dúvidas com alguns desses.
A preocupação de Becker se dá no uso das metáforas em trabalhos acadêmicos. Sim, em qualquer ambiente no qual exista o diálogo, o debate, a conversa, enfim, a fala, as metáforas têm um espaço para expor toda a sua magnitude. O problema surge quando não há um contexto certo que propicie a utilização da metáfora, ou até mesmo quando se faz uso de algo muito batido, ou ainda de forma errada, ensejando na inadequação de sua utilização.
É o caso de se indagar o ‘quando’ e o ‘se’ possível, pois “todas as metáforas batidas algum dia tiveram vida. Conforme envelhecem, perdem sua força devido à repetição, e assim ocupam espaço, mas não dão uma contribuição menor do que uma afirmativa simples e não metafórica”.
Metáforas utilizadas de maneira equivocada (achando que está se dizendo algo, quando na realidade está se falando coisa diversa), descontextualizadas ou inadvertidas (“argumento cortante”, “penetrar no coração”, “chegar ao fundo da questão”…), incompreendidas pelo falante ou pelo ouvinte (“mais feliz que filho de barbeiro em quermesse”…), e até mesmo as antigas que vão perdendo razão de o ser (“virar o disco”, “caiu a ficha”, “queimou o filme”…) – vale o uso? Depende de se você as julga adequadas ou não naquele contexto pretendido ou em que se aplica. Afinal, a metáfora possui toda uma riqueza própria, mas ao mesmo tempo em que ela pode abrilhantar todo um texto, uma mensagem, uma ideia, pode também ser responsável por causar problemas não esperados.
E você, como usa as suas metáforas?
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
BECKER, Howard S. Truques da Escrita: para começar e terminar teses, livros e artigos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. p. 121-127.
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