Há quem diga que o autor é o texto – ou pelo menos que no texto o autor está presente. Concordo em parte. Por mais que acredite que exista todo um poder contido num texto, não creio que seja forte o suficiente para aprisionar ali o autor. Assim, poderia se dizer que no texto sempre está presente parte do autor, ou ainda que um pedaço desse é o próprio texto – já que o escrito é uma parcela do todo que é o autor.
Essa relação do autor com o texto tende a ser uma faca de dois gumes, já que, seja como for, é pelo texto que se julgará o seu criador: um conto que agrade, um romance que cative, uma manifestação de opinião que convença, um artigo científico que apresente uma pesquisa robusta ou uma poesia que toque a alma do leitor costumam dar bons créditos ao autor, situando-o como um bom escritor/intelectual/pesquisador/poeta; num sentido contrário, caso o conto desagrade, o romance seja enfadonho, a manifestação de opinião seja feita sem qualquer critério de base, o artigo científico se estabeleça sobre uma pesquisa relaxada ou a poesia não inflamar o espírito do leitor, o autor acabará sendo taxado de alguma forma. De qualquer modo, o autor é sempre responsável por sua criação, merecendo responder tanto pelos seus acertos como pelos tropeços.
O problema de se entender o todo do autor enquanto o texto fosse é que isso pode gerar alguns equívocos. Há vários fatores que devem ser considerados previamente a fim de que se estabeleça qualquer tipo de entendimento nesse sentido. Um desses é o tipo de escrita que o autor produz: se num artigo de opinião podemos considerar que o texto traduz a fala direta do seu autor, num conto não se pode concluir de igual forma, já que no texto ficcional o escritor possui uma ampla liberdade criativa que permite com que rompa toda e qualquer barreira – inclusive aquelas que representam os posicionamentos do próprio criador.
Assim, os julgamentos que se fazem contra (ou a favor d)o autor, devem ter como observância prévia o que se está julgando, como se está estabelecendo esse julgamento e se, com base nisso, pode se concluir que o texto reflete o próprio escritor de toda e qualquer forma. Num texto de opinião política, podemos tentar situar o articulista em determinado local (corrente, posicionamento, ideologia…), concordando ou discordando daquilo que traduz, pelo menos em certa parcela, o próprio autor. Já em um escrito ficcional, a coisa é diferente, pois o que se analisa são questões diversas daquilo que “pensa” o literato.
O que temos é que em diferentes tipos de textos, diferentes são os fatores que devem ser levados em conta para se analisar tanto o texto como o seu autor. E isso não vale apenas para quando o tipo de escrita muda, mas também dentro de um mesmo segmento quando o fator tempo entra em cena. Ora, algo que o escritor pensou e escreveu hoje, assumindo determinada posição sobre certo assunto, pode não necessariamente refletir aquilo que traduzirá a sua posição futuramente. Tudo flui.
É por isso que é perigoso entender o todo do autor como o texto fosse, pois numa situação em que o seu pensamento mude, um texto antigo não mais poderá ser lido como sendo o próprio escritor, uma vez que o liame que os unia em certo ponto teria se rompido. Isso também não quer dizer que o texto antigo deixe de possuir qualquer ligação com o seu criador, afinal, quando escrito, deixou-se ali, no texto, um pedaço daquele. É algo que foi, que já fez parte do autor, mas que permanece agora no outrora.
Assim como as lembranças, os textos antigos constituem parte do todo do autor, mesmo que num outro momento não mais necessariamente passem a refletir um pedaço daquilo que o escritor é.
Pessoas mudam, textos não – a percepção sobre esses, sim, mas os escritos em sua forma permanecem estáticos. Esse é o porquê de não poder se considerar sempre os textos de outrora como fossem o autor ou parte desse: algumas ou muitas vezes, esses textos já não mais são parte do escritor.
Fonte da imagem:
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Não tenho condições de discutir ou comentar sobre o assunto ou sobre o tema abordado, mas o autor Dr Paulo Silas Neto, têm um espírito crítico, e creio, ser um formador de opinião, o que embasaria, escrever um 2º livro, porque tem dons e muito talento. Não saberia usar termos mais concretos para convencê-lo, a fazer surgir uma obra que, tenho certeza, serviria como guia e orientação para quem gostaria de escrever. Sugiro, e desejo, vê-lo, surgir entre os mais famosos estudiosos, e autores, desta época, o que seria de suma importância. Não estou, a fazer elogios, a Deus dará para agradá-lo, mas meu objetivo maior, é desbancar os falsos escritores e levianos que tanto prejudicam os iniciados, os noviços em todos os segmentos de estudos. Podia dizer mais….mas fico, no meu lugar que é o de conhecer e admirar tantos amigos virtuais. Comecei aos 70 anos na internet e agradeço ao criador. Obrigado pela atenção!
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