O título leva o leitor desavisado a crer que está diante de poemas exacerbadamente românticos, impressão essa que já nas primeiras páginas será desfeita. Os versos de Andrei Ribas estão impregnados de uma modernidade estrondosa, que só é interrompida pelo silêncio de um tédio aterrorizante.
Há em sua poesia uma forte tensão sexual que em diversos momentos explode em imagens brutais, como nos poemas “Estupro”, “Drinks & cigarrettes” e “Antropófago”, porém, ao longo do livro encontramos um eu-lírico em conformidade com seu tempo, que incorpora o caos, os vícios e o vazio de sua época, transformando suas noites fragmentárias numa poesia eletrizante, como veremos a seguir.
Mãodupla
Você pode
Ser o que quiser
E mesmo assim
Será só o que
Querem
Qual a crua liberdade:
A de açoitar conselhos/mandamentos
ou propagandear sociais vitórias?
Quem sabe o que luta
Sabe o que perde
Nenhuma escolha é nossa própria
Pra não dizer que não falei
Meu poema não foi
O preferido
O mais comentado
Quiçá vendido
Não foi protagonista nem
Ganhou estatueta
Beijou a artista
Legou riqueza
Não conseguiu dar entrevista pro Jô
Nem entrar no BBB, sequer se inscreveu,
Correu prum ônibus que não parou
Molhou a orquídea cuja folhagem morreu
Foi daqueles
Que a pessoa
Mira e esquece
Pensa e se aborrece
Só estorva e quase sempre diz não.
Andrei Ribas
Referências:
RIBAS, A. Romântico visceral sob o céu fragmentário. Porto Alegre: Bestiário e Artes & Ecos, 2017.
Compre o livro aqui
Compre os livros e traduções de Fernanda Mellvee, autora desse post, aqui.