No documentário Anna, dos seis aos dezoito (1991), de Nikita Mikhalkov, temos um exemplo de como através da arte, o individual pode representar os dramas e anseios do coletivo. Baseados em fatos relacionados aos próprios familiares, o cineasta utilizou a própria história para resgatar uma parte da época e da sociedade em que vive.
Através da obra, o diretor tenta encaixar as peças de um tempo passado, em que o cotidiano de sua família sofreu a intervenção direta de um período político conturbado.
Nikita Mikhalkov
O que você mais ama? O que odeia mais? De que você tem medo? O que você mais quer? – São perguntas feitas pelo cineasta russo à filha Anna Nikitichna Mikhalkova ao longo de doze anos.
Obviamente, as respostas mudam a cada ano, acompanhando o ciclo de amadurecimento de Anna, que tem início às vésperas de seu ingresso na escola. Anna, que em princípio revela medos pertinentes ao universo infantil, com o passar do tempo, expressa preocupações comuns a todos os cidadãos de sua época. Suas primeiras respostas revelam o medo de bruxa, o ódio ao borsch e o desejo de ganhar um crocodilo, ao final do documentário se prepara para deixar a Rússia, para estudar na Suíça.
Filmado clandestinamente, Anna, dos seis aos dezoito, no original, Anna: Ot shesti do vosemnadtsati, mais do que a infância e adolescência da filha do cineasta, retrata os últimos anos da União Soviética, com todas as contradições que esse período histórico apresentava.
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