Série – A Teoria da Literatura por seus autores: Walter Benjamin

Benjamin, Surrealismo, Anarquismo

Walter Benjamin, como Theodor Adorno, deposita uma de suas preocupações na reificação geral do capitalismo e do que é feito do sujeito em tempos da égide da técnica, do produto, da máquina. Com esse avanço do consumo, os seres humanos vão se transformando em máquinas consumistas, eles mesmos virados mercadoria e com uma experiência pessoal histórica autêntica. (Autêntico aqui não no sentido da subjetividade romântica, do gênio etc., mas de uma singularidade que é coletiva e que caracteriza o ser humano). Lembrando: em Theodor Adorno, a hipótese era a da posição do narrador no romance, que através de fluxos de consciência, por exemplo, conseguia adequar-se ao que a modernidade pedia à forma romance, trazendo novamente a buscada experiência histórica.

Aqui, no texto “O Surrealismo. O último instantâneo da inteligência europeia”, Benjamin busca nos surrealistas o que acredita ser o último respiro dessa mesma experiência. É sabido o fato, embora Adorno faça uma boa problematização sobre isso, que o Surrealismo tem muito a ver com sonhos, que por sua vez tem muito a ver com o inconsciente, descoberto e explicado pela psicanálise de Freud pouco tempo antes. O ponto do Adorno é com a não equivalência entre Surrealismo e inconsciente, o que está correto; Benjamin, a partir deste vetor, vê ali, no inconsciente refletido em imagens oníricas dos surrealistas, uma experiência pessoal e histórica possível (a última talvez). Alguns dos artistas do movimento usavam inclusive drogas para chegar a este estado em que acreditavam alcançar o mais fundo do ser humano, ou o que havia sobrado dele ali. Para Freud o inconsciente, objeto da psicanálise, se faz ver em três situações: chiste, sonho e ato falho. No sonho, buscado pelos artistas, estaria então o mais fundo de um sujeito que está se esvaindo, daí a necessidade de recuperar algum traço dessa humanidade.

Ainda dentro desse ponto, Benjamin chama atenção para a potência revolucionária encontrada na liberdade buscada pelos surrealistas. Liberdade que, segundo o autor, compara-se a mais radical das propostas de liberdade, a que propõe que a sociedade só será livre de fato quando todas/os foram – o Anarquismo. Benjamin situa em Bakunin essa ideia, na segunda metade do século 19, quando o Anarquismo surge das lutas operárias do leste europeu, contemporâneo ao surgimento do Comunismo. A mediação que o autor não faz, mas que se encontram implícitas, é que o proposto por Bakunin é uma teoria político-ideológico organizada, com princípios e métodos de ação (nunca dogmáticos, mas com sistematização e organização). Não é o que costuma-se anarquia, como sinônimo de bagunça e caos, que é outra coisa.

Essa é a razão pela qual o movimento surrealista encontra-se mais à esquerda na esfera política. Busca a liberdade de criação ao extremo. É bom frisar, no entanto, que esse encaixamento é teórico e não prático, já que em princípio se tratam de artistas e não de artistas-militantes. De qualquer forma, existe a busca mais que urgente, ainda hoje, de recuperar o sujeito em sua experiência histórica integral.

Rodrigo Mendes

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