Ler mais de um livro por vez

Certa vez, vi uma tirinha na internet que brincava com o tema hoje aqui exposto. Um rapaz dizia estar lendo três livros ao mesmo tempo. Quando indagado sobre o que estava achando da(s) leitura(s), ou em que parte estaria, o leitor dá uma curiosa resposta (estando aí a sacada da tirinha) na qual mistura elementos de todos os três livros como fosse uma única coisa. A divertida reflexão que a tirinha traz é justamente a confusão, misturando enredos, personagens e detalhes de histórias diferentes, que pode surgir espontaneamente ao se ler mais de um livro simultaneamente.

Você lê mais de um livro por vez?

Há críticas e defesas ao ato de se ler mais de um livro ao mesmo tempo. Por um lado, exercitar-se-ia o cérebro, aguçando a concentração e potencializando-se a memória, com o hábito de ler simultaneamente mais de um livro. Por outro, seria tarefa que impossibilita lembrar de todos os enredos, pois o leitor acabaria por confundir personagens e não conseguiria manter o foco necessário em cada livro, em cada história, em cada trama.

Qual dessas manifestações estaria mais correta? É defensável ler dois, três, quatro livros simultaneamente?

Os argumentos, dentre outros, estão lançados. Os ânimos se alteram na medida em que discussões mais efusivas surgem entre aqueles que veem com bons olhos a ideia e aqueles que não engolem o ato. Mas afinal, deve-se ou não ler mais de um livro por vez?

Para além das respostas possíveis, valho-me aqui do argumento das características de cada leitor: há aqueles que conseguem facilmente manter leituras diversas focadas sem se perder, assim como há os que necessitam de uma atenção redobrada quando da leitura, impossibilitando que mais de um livro seja lido ao mesmo tempo, pois correm o risco de misturar o conteúdo dessas obras.

Não vejo problema algum em, “ao mesmo tempo”, ler livros diferentes. Sou praticante disso inclusive: dificilmente estou lendo apenas um livro por vez. Utilizo-me aqui, portanto, como exemplo. Atualmente, estou lendo dois livros simultaneamente: “A Zona Morta”, de Stephen King – um romance que conta a história de um rapaz que adquire um certo tipo de poder mediúnico após acordar de um coma de quase cinco anos, e “O Homem e seus Símbolos”, de Carl G. Jung, obra na qual o fundador da psicologia analítica reúne a síntese de seu pensamento voltado ao público leigo. Cada livro se situa num gênero próprio – um romance literário e uma obra técnica. O romance pode ser lido em qualquer lugar: no ônibus, no sofá, no banheiro, na fila do banco… Não que o livro técnico também não possa – mas como exige mais atenção na leitura, em alguns lugares ou em determinadas situações sua leitura pode acabar sendo inconveniente para a atenção que a obra requer. De igual modo, isso não significa que um romance literário não exija atenção, mas o peso de cada qual, com certeza, difere em alguns graus. Daí que uma leitura não compromete a outra – mesmo que de forma intercalada.

Não apenas os níveis exigidos de atenção podem se tratar de uma justificativa para a leitura simultânea de livros. Há outros, como por exemplo o tamanho e formato dos livros. Um leitor que esteja lendo “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, ou “Dom Quixote”, de Cervantes, pode compreensivelmente optar por não carregar essas obras por aí, na bolsa ou no braço, de modo que acaba escolhendo um livro menor para que acompanhe suas andanças. Assim, enquanto a obra volumosa fica em casa para ser lida no sofá, no quarto ou onde quer que seja, o livro mais tenro é lido em toda e qualquer outra oportunidade quando o leitor estiver fora do aconchego do seu lar.

Alguns também podem se sentir incomodados em ler certos títulos em público, optando por deixar que algumas leituras mais picantes, por exemplo, sejam feitas apenas em momentos mais íntimos e solitários, abrindo-se espaço aí para que um segundo livro seja lido simultaneamente – este para quando o tímido ou cauteloso leitor estiver em público.

Enfim, o que brevemente pontuo aqui é que há razões outras para se ler mais de um livro ao mesmo tempo, podendo se argumentar para além daquela justificativa costumeiramente apontada com relação ao exercício do cérebro.

Não há problema algum em se ler mais de um livro por vez. Muito pelo contrário. Há razões de sobra para que esse exercício seja um hábito na vida de todo e qualquer leitor. Leiamos mais de um livro por vez, portanto.


Fonte da imagem:

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Um comentário sobre “Ler mais de um livro por vez

  1. Leio mais de um livro atualmente estou lendo Mulherzinhas Doidinho de José Lins do Rego Bom Dia Espirito Santo este ultimo de cunho religioso.Todos tres são muito bons.Soy formada em Letras.portanto gosto muitode ler.

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