É possível, pela escrita, alcançar o âmago do mais duro dos corações, quebrantando aquele gelo aparentemente intransponível e revelando que existe um verdadeiro coração, no sentido literário do termo, no interior de todo e qualquer leitor, que irrompe com os mais diversos sentimentos efusivos.
É possível, pela escrita, acalentar traumas, cessar tempestades, romper grilhões, silenciar tormentas e inibir rompantes, transformando vozearias em estados silentes nos quais o necessário refletir se faz presente e impera enquanto circunstância resoluta que permite o avanço.
É possível, pela escrita, criar o próprio sopro que dá vida, erigir um constructo sólido que produz efeitos dentro e fora do texto, estabelecer um sentido próprio para algo, definir um conceito que resulta em luz para uma obscura teoria, apontar para onde o X da questão reside.
A escrita atravessa, alcança, transmuta e gera.
É possível, pela escrita, conquistar o coração de alguém, tocando a sua alma, chacoalhando o seu espírito, perfazendo as suas dúvidas, dando amparo às suas inquietações, propondo soluções aos seus questionamentos, fazendo promessas, demonstrando presença, salientando importâncias, desvelando o que há para ser relevado.
É possível, pela escrita, ser e estar: presente quando ausente, ausente quando presente, atento quando em situações de alvoroço, colérico quando em situações de mansidão, obstinado quando se poderia disperso, descontínuo quando se poderia assíduo, sossegado e não mais impetuoso, apático e não mais enérgico.
É possível, pela escrita, dar contornos próprios à efemeridades, criar novos significados para coisas que passavam antes sem que fossem efetivamente percebidas, atribuir importância para situações do cotidiano, dar enfoque ao que cerca o leitor antes, durante e depois da leitura, tendo-se assim uma série de novas percepções que recebem um contraste advindo daquelas palavras absorvidas pelos olhos de quem lê.
A escrita tem poder.
É possível, pela escrita, fazer rir, fazer chorar, magoar, divertir, entoar lembranças, rememorar coisas que já foram vividas, criar laços, dar ensejo à paixões, praticar o proibido, acentuar elucubrações, perdoar e ser perdoado.
É possível, pela escrita, dizer o indizível, pensar o impensável, falar sobre aquilo para o que ainda não existem palavras, discorrer sobre questões carecedoras de significância, dialogar sobre o que não se entende.
É possível, pela escrita, atribuir à solidão a ideia de libertação, conferir à perda o significado de aprendizado, conceder ao choro a importância de uma etapa necessária para o avanço.
A escrita liberta.
É possível, pela escrita, essas e tantas outras coisas. O cenário de possibilidades é tamanho que talvez sequer caiba no universo da escrita. É possível fazer muitas coisas com as palavras lançadas no papel. As palavras dizem as coisas, cabendo a quem as escreve captar essas coisas e as traduzir por meio da escrita. É um processo complexo, tratando-se de um fenômeno muito mais profundo do que pode aparentar. É necessário que se tenha um brilho para que a escrita possa também brilhar, cuja luz deve ser constantemente aperfeiçoada, já que há o risco sempre presente de as sombras lhe cobrirem por completo. Enquanto existir luz, haverá escrita, oportunizando aos que querem enxergar além da visão fornecida pelos olhos uma ferramenta para que assim seja possível.
Portanto, pela escrita é possível.
Aos que escrevem, amigos e amigas, colegas e conhecidos, seguidores e seguidos, enfim, aos escritores e escritoras: é por causa de vocês que a escrita é possível, sendo responsáveis por tornar factível todo um mundo que sem a escrita não existiria. Muito obrigado!
Parabéns pelo dia do escritor!
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