A figura do gaúcho na literatura

José de Alencar escreveu vários romances tentando retratar as diversas culturas brasileiras, entre elas está o “Gaúcho”. Muitos falam que o livro traz uma visão deturpada da realidade, já que este foi escrito sem o autor colocar os pés no Rio Grande do Sul. Apolinário Porto-Alegre, dois anos depois, escreveu “O Vaqueano”, uma espécie de resposta à José de Alencar.  A obra é considerada o marco do regionalismo literário riograndense, no entanto, o linguajar ainda fica distante do que é considerado o linguajar do Rio Grande do Sul. Simões Lopes Neto, com seus “Contos Gauchescos” nos mostra um outro olhar em seus contos, chegando a alcançar êxito nacional. Não podemos negar que essas obras são clássicas, porém estamos vivemos a era da literatura contemporânea, e há retratos muito mais fidedignos dessa figura tão tipificada no universo literário.

“Ainda que a terra se abra”, livro escrito por Rodrigo Tavares, mostra ao leitor um gaúcho sensível, por vezes fraco, como qualquer ser humano. Quando li, senti que ali estava a imagem fiel do gaúcho. As personagens foram construídas de forma articulada, tanto que tomam forma em nossa vida. Há sim regionalismo ao longo das páginas, mas nada exacerbado, tudo escrito com muito cuidado para evitar excessos. Rodrigo descreve o campo, a cultura, os trejeitos na medida certa, e mostra que no RS as coisas também evoluem, por mais que às vezes demore.

Ao tratar de regionalismo campeiro, não podemos esquecer de Érico Veríssimo. O escritor é um gênio quando o assunto escrever sobre o Sul do Brasil, porém nele ainda há certas influências do romantismo, por mais que ele faça parte da segunda fase do modernismo brasileiro, e isso atrapalha (mesmo que de forma ínfima) a verossimilhança no texto. Apesar disso, não podemos negar que Érico contribuiu muito para que o país enxergasse o Rio Grande do Sul com outros olhos, muito além dos estereótipos já estabelecidos.

Retomando “Ainda que a terra se abra”, sinto que esse livro virará um clássico do regionalismo literário riograndense. É um livro tocante, verdadeiro em cada linha, que retrata sem adornos excessivos o Sul de agora. “Ainda que a terra se abra” é digno de ser lido por todos, pois assim o resto da população brasileira esquecerá o gaúcho de bombacha e esporas de José de Alencar, e lembrará daquele que também usa gravata e terno e fala com um sotaque inconfundível, escrito por Rodrigo Tavares.

 

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