2020: uma distopia real

A literatura, assim como todas as formas de arte, tem o poder de nos fazer enxergar além da materialidade. Um texto – ou uma pintura ou uma música – jamais será recebido da mesma forma por duas pessoas, pois cada uma interpreta a obra de acordo com a própria vivência. E o mais interessante é que em contrapartida a esse movimento de introspecção que a arte nos proporciona, ocorre também o distanciamento do sujeito leitor/ouvinte/espectador da própria realidade a partir da imersão no objeto artístico.

É por meio desta imersão que ficamos mais atentos a detalhes que talvez passem despercebidos em nosso entorno. A literatura, como promotora da experiência humana, é um campo muito fértil para observarmos o desdobramento de questões que permeiam a nossa realidade. Recentemente, tive o privilégio de realizar a leitura crítica de um original literário cuja história era ambientada dentro de um presídio no qual os apenados não tinham quase nenhum acesso às informações vindas do mundo externo, embora constantemente ouvissem rumores sobre um vírus letal que não tardaria a chegar ao local em que viviam. O enredo se desenrola num cenário de tensão, no qual nem todos têm consciência da própria vulnerabilidade, mas todos estão sujeitos aos jogos de poder que controlam suas vidas e à mercê de um diretor – que demonstra uma absurda frieza e ignorância ao lidar com a disseminação da doença entre os detentos –  e de seus encarregados, homens apáticos que apenas cumprem ordens, sem nenhum senso crítico.

Nem preciso dizer o quanto esse texto – um excelente texto por sinal – me fez refletir sobre a minha própria condição dentro deste 2020 caótico. Neste ano, tivemos a oportunidade de vivenciar algo que já foi muito explorado em livros e filmes, mas que era praticamente impossível de imaginar como algo factível.

Um outro aspecto que considero relevante dentro desta conjuntura é o quanto a ficção tem me auxiliado não só a compreender tudo o que está acontecendo, mas também a lidar com a ansiedade. No início da pandemia, comecei a escrever o romance Atrás da cortina, que é a minha primeira experiência com narrativa longa de literatura fantástica. O livro conta a história de Melina, uma dona de casa que em meio a uma crise no casamento, agravada pela convivência forçada com o marido durante o distanciamento social, descobre acidentalmente uma forma viajar no tempo.

Para concluir, considero que a distopia tem um papel não só de nos tornar mais críticos em relação ao contexto no qual estamos inseridos, mas, também, de nos proporcionar o prazer de entrarmos em contato com outros mundos, com outras realidades, propiciando assim uma experiência bastante enriquecedora de fruição literária.

Referência de imagem: https://www.metropoles.com

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