Conhecida como a autora de um romance só, a inglesa Emily Brontë nasceu em julho de 1818, em Thornton, Yorkshire, Inglaterra. Foi a quinta de seis filhos; suas irmãs Anne e Charlotte Brontë também se tornaram escritoras.
Pouco tempo depois de seu nascimento, sua família mudou-se para Haworth, onde seu pai passou a atuar como reitor e presidente da Paróquia. Foi, então, que ela e seus irmãos passaram a ter contato com a literatura clássica. Após a morte de sua mãe, ela e suas irmãs, foram enviadas para um colégio interno, onde, diga-se de passagem, viveram maus bocados.
Após tomar conhecimento de toda a situação, seu pai as trouxe novamente para casa. Curioso o fato que em sua casa havia uma governanta, Thabitha, que sempre tomava conta da rotina e das crianças, e acabou por gerar o hábito de contar histórias, até mesmo lendo clássicos literários para Emily e seus irmãos. Mal sabia Thabitha que, posteriormente, seria homenageada em sua obra como Nelly Dean: a empregada e narradora principal.
Aos vinte e quatro anos, Emily se mudou com sua irmã Charlotte para Bélgica, com o intuito de montarem sua própria escola, todavia, não lograram êxito. Quando de retorno à casa, Charlotte tomou nota dos textos e poemas escritos por sua irmã, e a incentivou a publicá-los. Foi então que, em 1846, uma editora pequenina passou a publicar seus poemas – sempre custeados por sua própria família.

Retrato das irmãs Brontë por Patrick Branwell Brontë (cerca de 1834)
Devido à realidade enfrentada na época, Emily utilizava-se do pseudônimo “Ellis Bell” para a publicação de suas produções, pois, assim, acabaria por ter mais credibilidade pelo simples fato de parecerem ser obras de um homem.
Um ano após o início das publicações, foi lançado o “Wuthering Heights”, traduzido como “O morro dos ventos uivantes”, ou, ainda, “Colina dos vendavais”. Curiosamente, fora este o único romance produzido por Emily. Mal sabia que seu singelo e único romance tornar-se-ia um dos maiores clássicos da literatura inglesa.
Sua obra tomou tamanha proporção mundial que ganhou diversas adaptações para o cinema, televisão e música.
O “Morro dos ventos uivantes”, originou-se das histórias contadas pelo seu pai, e por sua governanta. E, o mais peculiar, é que para uma jovem de menos de trinta anos, ainda mais considerando à época em que vivia, sua obra é recheada de críticas sociais. Tanto é que, conforme alhures dito, fora publicada em 1847, ou seja, época da revolução industrial. Para a sociedade, essa transição à industrialização significou uma verdadeira mudança nas classes sociais, o que fez com que os conceitos de caráter, família e sociedade fossem abruptamente alterados.
Em uma elocução fugaz, toda a história gira em torno de duas famílias: os renomados e tradicionais Linton, que residem na Granja da Cruz, localizada na região dos Tordo, em um atroz contraste com os nobres – e depois decadentes – Earnshaw, que residiam na propriedade rural do Morro dos Ventos Uivantes, que pertencia à família há gerações.
No início da obra, o patriarca dos Earnshaw realiza uma de suas viagens rotineiras à Liverpool e, ao retornar, desta vez não trouxe presentes aos seus filhos como era o costume; mas, sim, um órfão. Isso mesmo, um órfão encontrado a esmo. Então, o pequeno órfão é nomeado pela família como Heathcliff. Ele será tratado como inferior pelo seu próprio irmão adotivo. Com o decorrer da trama, com muita vingança e drama, o pequeno órfão torna-se um homem de grande fortuna, no estilo de “O conde de Monte Cristo”.
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Logo com sua chegada, o Sr. Earnshaw pediu a Nelly Dean que acomodasse o órfão junto de seus filhos.
Como pode-se imaginar, com todo o cuidado e atenção dado pelo patriarca à Heathcliff, o tratando como se filho fosse, isso acabou por gerar sérias crises de ciúmes em seu filho mais velho – Hindley. Mas, como um belo romance recheado de drama, amores impossíveis, desgraças e vingança, a filha mais nova do patriarca, Catherine, acaba por se apegar afetivamente ao órfão.
Quando do falecimento dos senhores Earnshaw, Heathcliff passa a sofrer inúmeras e incontáveis humilhações, chegando a viver em situação análoga à escravidão na propriedade da família, tendo, inclusive, sido deslocado para viver junto aos empregados, sendo sempre submetido à prática de tarefas extremamente desgastantes. Claro, todos os atos de crueldade foram milimetricamente planejados e efetuados por Hindley, por não suportar a ideia de um órfão cigano vivendo entre os seus.
Hindley fora privado de receber educação e ter acesso à convivência da família, o que fez com que sua couraça cada vez mais se enrijecesse. No entanto, mesmo com toda a proibição que lhe fora imposta em não poder conviver com os donos da casa, não poder nem ao menos manter uma conversa sadia com seus moradores, Catherine nunca o esqueceu.
Em uma época na qual os casamentos eram tidos como verdadeiros acordos comerciais, sempre prevalecendo a ânsia em manter o poder nas mãos das mesmas famílias, Catherine já estava destinada a casar-se com Edgar Linton, dono da Granja dos Tordos. De início, Cath até que aceita se casar com Linton, pois crê que o ama, pelo simples fato de ser “um homem rico, bonito e jovem”. No entanto, um dos alcantis da obra se dá quando Heathcliff, ouve, sem querer, uma conversa entre Cath e a governanta, na qual a jovem relata que, de fato, possui sentimentos amorosos por Heathcliff, mas que não poderia se casar com ele para não manchar sua reputação social.
Foi então que, tomado por uma formidável fúria, Heathcliff abandona o Morro dos Ventos Uivantes, sem deixar quaisquer rastros sobre seu paradeiro. Quando de seu sumiço, Cath adoece em razão à preocupação por seu desaparecimento. Mesmo assim, tomada por toda a dor da perda por algo que nunca de fato a pertenceu, segue com sua vida.
Tempos depois, Heathcliff retorna à fazenda como se outra pessoa fosse. Um cavalheiro poderoso, rico, enfartado de rancor e sede por vingança. É então que Cath encontra-se dividida entre seu então marido e seu irmão adotivo.
Dentre tantos acontecimentos, a obra é revestida de inúmeros detalhes sobre a casa do Morro dos Ventos Uivantes, e sobre os dramas enfrentados pelos personagens – sempre relatados por Nelly Dean.
Como é frequente em todo drama romântico, o casal não consegue permanecer junto. Cath, acaba por falecer logo após o nascimento de sua filha com Linton. Heathcliff, como um bom anti-herói que é, se enfurece e jura a vingança a Linton e seu irmão adotivo, Hindley.
Toda sua vingança é orquestrada com maestria, e, de início, casa-se com a irmã de Linton, Isabella. Como parte de seu plano maléfico, Isabella sofre maus tratos de seu marido, e engravida. Então, decide abandoná-lo. Já Hidley, acabou por ceder as tentações dos vícios do jogo e da bebida. Coincidentemente, todas as apostas envolviam Heathcliff, o que nos leva a saber, por obviedade, quem foi seu verdadeiro ganhador.
Imperioso destacar que, no final do livro, descobre-se que, no testamento do senhor Earnshaw, ele havia deixado todos os bens da família a Heathcliff, seu filho adotivo. Ou seja, toda fortuna já lhe pertencia, sem que soubesse, quando era maltratado por Hidley. Sentindo-se realizado e pleno com a vingança orquestrada, passa seus últimos dias sozinho, o que acabou por levá-lo à loucura. Ao morrer, seu último desejo fora realizado: ser enterrado junto a Catherine, seu único e verdadeiro amor. Relata-se que o jovem casal impedido de amar por meros caprichos do ego, vaga pelas charnecas do Morro.
O “Morro dos ventos uivantes” se traduz em um verdadeiro paraíso perdido revestido de romance e drama, com toda sua escrita gótica, poesia miltoniana e seu estilo hiperbólico. A obra de Emily, até os atuais dias, faz com que seus fãs busquem um significado délfico, enquanto tentam encontrar sentido no universo claustrofóbico relatado.
Referências:
BRONTË, Emily. O morro dos ventos uivantes. Barueri, SP: Camelot, 2019.
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Fontes das imagens:
Imagem da capa por Karl James Mountford
https://virtualpaintbrush.com/cover-inspiration-cover-redesigns/
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