Qual é a proposta da 35ª Bienal de Arte de São Paulo?

A partir do tema “Coreografias do Impossível” a 35ª Bienal de São Paulo explora leituras de decolonialidade, gênero, raça e possíveis formas de existir frente a essas violências.


Imagem da Bienal. | © Anne Barbosa/CNN Brasil

As curvas brancas da construção de Oscar Niemeyer abrigam as 1,1 mil obras selecionadas pela curadoria coletiva de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel para a 35ª edição da Bienal de Arte de São Paulo. Aberta ao público na primeira semana de setembro, a exposição permanece em cartaz até o dia 10 de dezembro, no Pavilhão Bienal do Parque Ibirapuera.

Nesta edição, intitulada “Coreografias do Impossível”, os artistas foram provocados a pensar formas de alcançar o possível dentro do impossível, sendo esse impossível um conceito amplo proposto pela curadoria que passa pelas vivências marginalizadas desses artistas, noções de raça, classe, gênero, etnia, religiosidade, dentre outras vivências limitadas por violências histórico-políticas. Com isso, são incitados a buscar maneiras de trazer materialidade a essas im/possibilidades. As obras contemplam a diversidade em amplo grau, abordando temas como a igualdade, acesso à justiça, colonialismo e as visões de mundo dos 121 artistas convidados, abordando suas dificuldades e dores.

Ela trás a produção de indivíduos que, segundo Diane Lima, “têm performado as suas existências impossíveis, os seus cotidianos impossíveis em materialidades diversas, em diversas linguagens artísticas, em volumes, formas e cores1“, relacionando diretamente a existência desses corpos com a linguagem e as práticas artísticas, bem como a relevância dessas produções no cotidiano e seu papel para repensar valores, termos, conceitos e os próprios problemas sociais de uma sociedade desigual.

Vista da instalação de Kidlat Tahimik na 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível. | © Levi Fanan – Fundação Bienal de São Paulo.

A iniciativa toma forma a partir de um exercício conceitual plural que engloba a própria prática curatorial, que optou por, pela primeira vez na história da Bienal, articular-se como um grupo horizontal de curadores, sem a comum hierarquia de curador-chefe e curador-assistente, mas ao mesmo tempo, preservando a individualidade desses curadores, de nacionalidades, formações e etnias diferentes, ao optar por assinarem seus próprios nomes em vez de se organizarem como um coletivo, o que carregaria a ideia de uma homogeneidade.

Esse modo de operar surge num ímpeto para coreografar o impossível, conduzindo toda a mostra ao redor de práticas voltadas a reestruturar a realidade e propor novos mundos dentro do próprio mundo, além de modos de existir dentro dessas realidades a partir do próprio ato poético e artístico. Com isso, realça “a prática de desenhar sequências de movimentos que atravessam o tempo e o espaço, criando várias e novas frações, formas, imagens e possibilidades, apesar de toda a inviabilidade e toda a negação2“, movimento que evidencia e remete ao termo ‘coreografia’ adotado no título da mostra. Essa ideia suporta e dá forma à narrativa de busca pelo intangível proposta pelo time, uma vez por sugerir e coordenar movimentos e ações, tal qual uma coreografia.

Expografia da 35ª Bienal de São Paulo realizada pelo escritório de arquitetura Vão. | © Cristina Bava – CASACOR

A pluralidade se expande para os demais campos que envolvem o processo de uma exposição. No caso da arquitetura e expografia, uma coreografia foi induzida ao visitante pela limitação dos caminhos a serem seguidos. O trajeto incomum inicia a visita do primeiro andar. De lá, através das próprias rampas do pavilhão, o público sobe para o terceiro andar e, depois da visita, segue-se ao segundo andar pelas rampas de acesso externo, nunca antes utilizadas como percursos oficiais das bienais, limitando-se a atuarem anteriormente como saídas de emergência e trânsito de funcionários. Esse movimento sugere que os corpos ocupem o espaço em sua totalidade, incluindo o exterior do edifício, os jardins e subsolos (que contam com obras expostas), além de distanciarem-se das rotas tradicionais, incluindo mais uma camada à proposta curatorial de coreografar o impossível, de desenhar novas narrativas. Além disso, a arquitetura de Niemeyer foi modificada temporariamente, o vão do pavilhão foi fechado com paredes brancas, de forma a remodelar e ressignificar o espaço no qual a exposição acontece, limitando os olhares aos próprios andares no qual a pessoa está.

A dilatação da proposta também se estende a iniciativas além da reelaboração das rotas e do espaço expositivo. O time de curadoria se preocupou em estruturar uma programação pública, divulgada mensalmente no site e em folhetos entregues na própria bienal, com ativações de obras, rodas de conversas, exibição de filmes, além de ateliês abertos e programações adjacentes em residências artísticas parceiras da 35ª Bienal. Por mais, conta com um cuidadoso plano educativo que integra a mediação de visitas, publicações de textos e ensaios, audioguias, minicursos e uma publicação educativa em três atos, nos quais apresenta textos de reflexão, atividades e outros debates a partir da ideia de “Coreografias do impossível”.


35ª Bienal de Arte de São Paulo – Coreografias do impossível

  • De 06/09 a 10/12/23 
  • Terça, quarta, sexta e domingo – das 10-19h | Quinta e sábado – das 10-21h
  • Entrada gratuita
  • Av. Pedro Álvares Cabral s.n. – Parque Ibirapuera, Portão 3 – Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Pavilhão da Bienal)

Citações:

1   BITAR, Renata. 35ª Bienal de São Paulo começa nesta quarta e tem como tema ‘Coreografias do Impossível’. In: G1. 2023.

2   BORJA-VILLEL, Manuel. KILOMBA, Grada. LIMA, Diane. MENEZES, Hélio. Coreografias do impossível. In: Select. 2023.

Comprando qualquer produto na Amazon através desse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada a mais por isso.

Deixe um comentário