Não, meu pai nunca foi daqueles machistas irritantes que tratam os meninos diferente das meninas. Na verdade, ele sempre foi feminista, só não sabia disso. Sempre foi a favor da igualdade de gêneros. Por exemplo, ele sempre quis me colocar no karatê, enquanto, estranhamente, minha mãe achava que isso não era coisa de menina. Aliás, minha mãe era moderninha em muitas, muitas, coisas. Porém, devido à sua criação, existia um machismo escondidinho em algum canto que a fazia às vezes dizer que coisas do tipo “menina tem que ser delicada”, “ e se você namorar um menino, o que a mãe dele vai pensar de você ficar sentada na sarjeta do McDonald’s”, “o que fulano vai pensar de você”, “aborto é perigoso”, etc. Na época, sendo adolescente, eu não percebia que essas afirmações eram um pouco estranhas, e tentava seguir tudo certinho, contando a ela – quase dedurando, para que ela visse como eu era perfeita – quando minhas amigas faziam coisas que ela considerava inadequadas para uma garota adolescente. Com o tempo, experiência e, felizmente, minha longa temporada francesa, vi que o mundo não era bem assim da maneira que ela achava.
Após essa pequena digressão – estou quase chocada em me dar conta que tinha uma mãe machista – voltemos ao meu pai. Como eu dizia, ele sempre foi a favor da igualdade de gêneros, mas para ele, na cabeça dele, essa igualdade já era uma realidade há tempos. Acho que por ser assim e respeitar as mulheres, ele acreditava que todos os homens, ou talvez a maioria dos homens, ao menos os jovens e esclarecidos, fossem da mesma maneira. Inclusive, ele não entendia o porquê de algumas feministas serem tão extremistas e achava exagero quando eu fazia comentários feministas. Para ele, nossa luta já estava ganha. Para ele, machismo não é coisa de século XXI. Bom, sendo de aquário, esse signo dos visionários, até dá para entender a visão utópica.
O fato é que, em um belo dia, ele chegou todo indignado me contando alguns comentários que ouviu em uma mesa de um barzinho, saídos dos lábios de alguns conhecidos que têm mais ou menos a minha idade, digamos entre 20 e 35 anos. Uma das discussões dos moçoilos envolvia o tema “dificuldade de encontrar mulher para namorar”. Só não ficou pior porque o verbo era namorar, em vez de casar. Então meu amado pai me disse exatamente assim:
“É por isso que as mulheres têm que ser feministas!”
Por favor, vamos sublinhar e negritar o TÊM.
Além de gargalhar pela inocência dele – que acreditava que o feminismo era uma luta já ganha – senti muito orgulho.
Tomemos essa pequena história como exemplo. Da mesma maneira que meu pai não sentia a existência do machismo, por não ser ele mesmo machista e por não ser mulher, vários outros homens podem não se dar conta dessa realidade. Por isso, acho muito importante a produção de textos feministas que explicam de maneira bastante, digamos, educativa, ilustrativa, todo esse contexto.
Sou bastante otimista e acredito que o mundo evolui nesse sentido – está evoluindo a cada instante – e, inclusive, em alguns países nos quais morei ou tive estreito contato, Alemanha, por exemplo, o machismo é quase inexistente. Na cidade onde morei, uma garota pode andar de madrugada pelas ruas, seja de saia, seja como quiser, sem medo de ser atacada sem mais nem menos. Não digo que não aconteça nunca, porém me senti muito segura nesse sentido e vi muitas outras mulheres, alemãs, saindo por aí sem medo.
Talvez com o tempo, também cheguemos lá.
Revisado por Duda Delmas
Fonte da imagem de capa: http://www.boredpanda.com/amazing-dads-fatherhood-win/