A palavra “iconoclasta” vem do grego antigo eikôn, imagem, e klaôs, quebrar. Durante a História dois períodos me vêm a mente facilmente quando ouço ou leio a palavra: O período iconoclasta bizantino no século XVIII e IX, durante o qual religiosos eram contra a veneração de ícones e imagens santas; e o período das Guerras de Religião na França, podemos pensar em termos de Reforma Protestante no geral, época na qual um grande número de pinturas e esculturas religiosas foram destruídas.
No caso da coleção em questão, os criadores chamados para criar novas peças são tidos como verdadeiros inovadores e destruidores das tendências obsoletas.
Sou muito fã da Cindy Sherman desde que estudei um pouco sobre suas fotografias performáticas na faculdade e pude vê-las de perto em sua exposição no Museo Gucci em Florença, Itália. Inclusive, não é a primeira intervenção da artista na moda, o exemplo da campanha que ela fez para a M.A.C. em 2011 sendo para mim o mais expressivo. Criando o baú cheio de gavetas para a Louis Vuitton, ela pensou em como gostaria de ter um desses para guardar todos os acessórios e maquiagens que usa em suas transformações. A ideia seria um objeto com cara de antigo, que houvesse viajado o mundo, só que ao invés das típicas etiquetas de viagens de antigamente, foram colocadas nestas algumas imagens feitas pela própria artista. No baú, podem ser guardados todos os objetos e peças de roupa úteis em uma viagem.
Ela também desenhou uma bolsa pensando em carregar nela sua câmera pelo mundo a fora.
Frank Gehry, arquiteto americano que inclusive construiu a belíssimo prédio da fundação Louis Vuitton, em Paris e até mesmo emprestou sua voz para um personagem de si mesmo no Simpsons! A bolsa de mão que ele desenhou é a cara da arquitetura – parece um mini prédio de linhas futuristas.
Ele é um personagem bastante engraçado, que ao criar a carteira para a marca não pensou demais e agiu intuitivamente. Em seu depoimento sobre suas inspirações no site da LV ele até mesmo contou que seria genial que seus colegas da arquitetura se chocassem e o criticassem por desenhar uma bolsa. Aí está alguém que curte uma polêmica…
Rei Kawakubo, a fundadora da Comme des Garçons, já havia desenhado para a gigante francesa em 2008, criando modelos vendidos exclusivamente na filial de Tóquio para celebrar os 30 anos da marca em seu país, o Japão. Aliás, essa também não foi a primeira vez que a LV convidou estilistas e artistas para incrementar uma coleção. O mesmo já havia acontecido nos anos 2000, com destaque para o artista, também japonês, vedette do mundo da arte, Takashi Murakami.
Para essa nova criação, ela procurou algo inédito, porém nos limites do possível. Ou seja, o trabalho de uma verdadeira designer, que alia forma e função. Para mim parece a expressão de um fantasminha em uma bolsa extremamente lúdica, digo isso de uma maneira muito positiva.
O Karl Lagerfeld, bom, foi bem Karl Lagerfeld. Ele criou uma espécie de closet monogramado portátil – com rodinhas – no qual é possível pendurar seja roupas, seja um saco de boxe monogramado, com luvas de boxe, uma bolsa, para carregá-las, imagino e outras bolsas menores em forma de saco de boxe. Segundo ele, muitas mulheres praticam o esporte hoje em dia, o que deve feito com muito estilo. O detalhe “portátil” facilitaria levar os objetos para o treino. Inclusive o “closet” com o saco de pancadas foi produzido em tiragem limitada a somente 25 exemplares, com preço sob consulta – para se ter uma ideia, a bolsa menorzinha e mais barata em forma de saco de boxe custa mais de 10 mil reais.
Ainda segundo o estilista, seria um brinquedinho para adultos já bastante mimados… Dado o preço das peças, faz bastante sentido.
Christian Louboutin criou uma bolsa e… um carrinho de feira! Tá, vamos ao contexto. Como parisiense, ele explicou que queria algo que tivesse a ver com ele e com a Louis Vuitton e no carrinho cabe bem a experiência parisiense de ir a um supermercado ou feira de produtos orgânicos com um carrinho de compras. Pode parecer estranho, mas faz sentido, dado que muitos parisienses abastados não possuem um carro e andam por aí de metro ou táxi ou mesmo a pé. Já vi parisienses me olharem espantados, como se eu fosse um E.T., e me perguntarem “porque eu queria um carro?”, quando eu morava em Paris. De qualquer maneira, não imagino as pessoas que compram ESSA coleção caríssima indo à qualquer tipo de feira.
O verniz e o vermelho também são a cara dele, como aparece em muito de seus sapatos. Houve também uma influência de pinturas japonesas e do grupo de artistas Les Nabis, final do século XIX, início do século XX. Enfim, meio estranho.
Por último, vem as mochilas meio pelúcia, meio monograma LV do Marc Newson um designer industrial que já desenhou quase de tudo – de tecnologia a moda e mobiliário. Como algum dos outros criadores acima, ele fez uma peça que gostaria de ter. Foram definidas algumas características básicas funcionais, como manter-se de pé, ser impermeável – através da tela monogramada típica da marca – e poder servir até como um travesseirinho improvisado – na parte colorida e fofa da pele de ovelha. A ideia foi criar um visual divertido e jovial. Ele atingiu seus objetivos e criou algo funcional. Não havia gostado muito da peça quando a vi, mas lendo suas inspirações ele me convenceu. Porém, eu acredito que não a usaria.
Além disso, a marca também chamou seis fotógrafos e diretores – Gordon Von Steiner, Johnny Dufort, Pierre Debusschere, Colin Dodgson, Michael Avedon e Jennifer Livingston – para inventarem histórias criativas sobre cada projeto.
Fontes:
http://celebrating.monogram.lv/