Na França, a cultura das associações de caridade é bastante forte. É muito comum ser abordado na rua por um jovem uniformizado que pede que você contribua mensalmente a tal ou tal organização, seja ela para proteção dos animais ou do meio ambiente, contra a fome na África, para a construção de escolas em países pobres, etc. Também é costumeiro ver cidadãos dando notas gordas a pessoas pedindo dinheiro no metro. Ou seja, as associações exigem e os cidadãos as abraçam, o assistencialismo faz parte da vida.
E uma das maneiras que as associações adotam para chamar a atenção da população para sua causa, não somente na França, mas em vários outros países da Europa, é a culpa. Pois, em países ditos de primeiro mundo, a pessoa considerada “pobre” está bem longe de estar desprovida do básico para viver. Pelo contrário, um iPhone, por exemplo, não é um bem de luxo.
Seguindo essa linha, a associação francesa Aurore criou uma série de anúncios divertidos e polêmicos que invadiram Paris, jogando com nomes de três grandes marcas francesas: Christian Dior, Yves Saint Laurent e Jean Paul Gaultier. Os nomes dos costureiros foram acompanhadas de fotos de moradores de rua em situação precária, além da frase “Ayons l’élégance d’aider ceux qui n’ont rien”, “Tenhamos a elegância de ajudar aqueles que não possuem nada”, em português. Nesse caso, ajudar os necessitados tornou-se algo quase chique. Notem que as marcas não foram consultadas sobre o uso de seus nomes na campanha e os organizadores esperam que as empresas sejam sensíveis à causa.
A associação, que existe desde 1871 e não tem hábito de criar grandes campanhas publicitárias, aproveitou o fim da dita “trégua invernal” – período em que França é proibido expulsar qualquer um que tenha invadido um espaço, devido à temperatura demasiadamente baixa nessa época do ano – para agir e lembrar que somente em Paris, existem cerca de 4000 desabrigados.
Imagem que coloca em cena o nome de Christian Dior na forma de Christian Dehors. “Dehors” em francês significa “fora”.
Aqui o famoso Yves Saint Laurent aparece como Yves Sans Logement – em francês, “Sans logement” significa “sem habitação”.
Jean Paul Gaultier virou Jean Paul Galère. “Galère” significa “barco” em francês, porém, aqui faz referência à gíria que quer dizer “estar com problemas” ou algo como “estar em uma situação difícil ligada a dinheiro ou emprego”.
A campanha me lembrou de outra antiga (2007), mas que reapareceu nas redes sociais recentemente, e colocou em cena o mesmo contraste, através de africanos que vivem na linha da pobreza e para os quais alguns dólares representam dias de sobrevivência, como modelos de artigos básicos e corriqueiros para os ocidentais de primeiro mundo: cerveja, bolsa, óculos de sol, pós-barba…
Nessa campanha da holandesa People in Need (Pessoas em Necessidade), os produtos foram acompanhados pelo seu preço e por uma quantidade bem menor, que significaria água, comida ou outros itens básicos para essas populações carentes. Ou seja, mostrando como essas bolsas e óculos, que podem parecer básicos para nós, são na verdade supérfluos.
Confira as imagens:
“Óculos de sol 24 euros
Acesso à água 8 euros”
“Bolsa 32 euros
Comida para uma semana 4 euros”
“Copo de cerveja 4.5 euros
50 litros de água fresca 1.50 euros”
“Pós-barba 35 euros
O básico para uma nova casa 6.50 euros”
Fontes:
http://www.huffpostmaghreb.com/2015/02/22/afrique-photos-pauvrete-_n_6704970.html
Revisado por Duda Delmas
*Publicado originalmente nos sites Literatortura e Fashionatto.