No filme uma linda mulher, Richard Gere, na pele de Edward Lewis, diz que ópera é uma questão de amar ou odiar, não existe meio termo.
Bom, eu adoro, apesar de estar longe de ser uma especialista em música.
Outro dia comentei com alguém que havia assistido Lohengrin, ópera baseada na mitologia germânica e escrita por Wagner no século XVIII; e esse alguém se impressionou com a minha habilidade em ficar em sentada durante longas três horas assistindo o espetáculo. Sinais dos tempos modernos, no qual um clique ainda é lento demais. Não sou daqueles reacionários cheios de clichês nostálgicos de uma época que nem vivi, mas acho importante valorizar coisas que nos tiram por um momento do estresse e aceleração quotidianos, acalmando a mente e o espírito. E a ópera, juntamente a diversos passatempos, como, por exemplo, os livros – outra de minhas paixões – faz exatamente isso. Apesar de carregar seu celular no bolso e poder acessá-lo e postar fotos livremente antes e durante os intervalos – sim, eles existem, e duram mais ou menos 25 minutos, afinal ninguém é de ferro – você tem que ficar com a pequena tecnologia portátil guardada, sem fazer barulho, e assim pode se concentrar de corpo e alma na história representada. E quando nos concentramos durante esse pequeno intervalo de tempo, de repente nos encontramos super entretidos no enredo. No final do espetáculo, mesmo cansada, estou louca para voltar para dentro da sala e saber qual será a sina – geralmente bem dramática – dos personagens cantadores.
Vale lembrar que no passado, esse tipo de entretenimento era equivalente aos filmes e séries de hoje em dia, ou seja, foram criados para entreter, não sendo somente um exercício intelectual. O lado cultural da experiência claramente também é muito valido, mas não se pode esquecer-se de recolocar em seu panorama histórico cada obra. Às vezes, pode ser difícil, já que a maioria das óperas representadas tem montagens, ou seja, cenários e figurino, bastante contemporâneo, preservando o texto e a musica original. Uma mistura entre o atual e o antigo.
Para quem nunca foi a esse tipo de evento, recomendo a tentativa. Se você for desses destinados a odiar operas, sempre se pode fugir no intervalo entre um ato e outro. Sem julgamentos. Vale ressaltar que as operas em outros idiomas – a grande maioria – tornam-se entendíveis graças a uma tela com legendas que fica acima do palco. E nessas horas, viva a tecnologia moderna! É ela ajudando a apreciar o antigo.
É interessante comentar que a ópera também é um evento social. De menor importância do que era no passado, no qual obrigatoriamente toda a nata de uma sociedade frequentava os teatros das cidades, hoje é frequentado por um circulo intelectual assíduo. As pessoas chegam cedo. Então, antes do espetáculo começar e nos intervalos aproveitam o restaurante ou bar – o do teatro municipal de São Paulo é uma delícia – bebem uma taça de champanhe, conversam e fazem aquele social básico. Porém, não se assuste com a aparência cult do negócio. Muitos turistas também vão à ópera, além de jovens ávidos por cultura e aposentados procurando uma forma enriquecedora de passar o tempo. Inclusive, muitas pessoas acabam por se conhecer, pois é possível comprar ingressos para a programação anual, e acaba-se assim encontrando com frequência alguns mesmos espectadores que frequentam o local.
Falando de jovens e aposentados, os idosos e os estudantes pagam meia, o que torna a experiência bem mais acessível. Mesmo para quem paga inteira, o ingresso não é tão caro. Dependendo do setor e da representação do dia, é possível comprar inteiras por 50 reais. A meia seria então de 25 reais, não tão distante do preço de um bom cinema.
Uma última curiosidade: O visitante atento perceberá – está escrito nos panfletos e sites com a lista do elenco – que às vezes existem dois atores para cada um dos personagens principais, e estes se alternam no caso das representações de uma mesma ópera acontecer durante dias seguidos. Isso acontece porque a voz das grandes estrelas, que chega a tons extremos impraticáveis aos seres humanos comuns, tem de ser preservada. Ela tem uma vida útil, da qual depende a carreira do artista. Digamos que é algo parecido com os atletas de alto desempenho.
Dê uma chance à ópera! Você pode se surpreender e encontrar um amor de longa data em forma de sons extasiantes, belas imagens e emoções intensas.