OBRA DE ARTE DA SEMANA: A Morte da Virgem de Caravaggio


Caravaggio, A Morte da Virgem, óleo sobre tela, 369 x 245 cm, 1604-1606. Conservada no Museu do Louvre, em Paris, França.

“Teu nome é Yemanjá/ E é Virgem Maria

É Glória e é Cecília / Na noite fria

Minha mãe / Minha filha

Tu és qualquer mulher

Mulher em qualquer dia.”

Ave Maria das Ruas – Raul Seixas

O que torna Caravaggio um dos maiores nomes e mestres da arte clássica de todos os tempos é a sua ousadia em aproximar o sagrado e o profano de maneira ímpar.

Conhecido por sua técnica impecável e dramaticidade única, obtida através da aplicação primorosa dos jogos entre luz e sombra, Caravaggio também era conhecido por seu temperamento explosivo e vida boêmia regada a noitadas etílicas. Em contra partida era um dos artistas mais requisitados e respeitados de sua época, o que lhe garantia o afrouxamento de suas penas em episódios envolvendo prisão e procedimentos legais.

Esse aspecto da vida pessoal do artista é importante ao realizar a análise da obra “A Morte da Virgem”, pois a obra está imbuída de significados sociais e aspectos da visão do artista sobre a religião e a sociedade de sua época. Caravaggio não apenas dividia seus momentos de lazer em companhia de ladrões, assassinos, prostitutas (homens e mulheres), camponeses, como também os trazia para dentro de suas obras. E esse é o motivo pelo qual “A Morte da Virgem” foi uma das obras mais polêmicas e impactantes do artista e de todo o movimento Barroco ao qual artista e obra pertenciam. O modelo utilizado para a criação da obra foi o cadáver de uma prostituta que havia se afogado dias antes do artista solicitar que a levassem para seu atelier.

Obviamente, a obra foi recusada, pois causou revolta e escandalizou os fiéis e os membros do clero. A obra havia sido encomendada pelo advogado papal, Laerzio Alberti Cherubini, e iria para sua capela na igreja das Carmelitas em Roma. Diversas alegações foram feitas: a primeira pelo fato de ter sido utilizado o cadáver de uma cortesã para a composição da obra. Um segundo relato também famoso diz que a obra foi recusada pela falta de decoro com que o artista representou a morte de Maria, deixando suas pernas à mostra. O caso é que esta obra pertenceu a várias famílias e hoje se encontra no Museu do Louvre em Paris.

O valor simbólico e estético conferido por Caravaggio está na dramaticidade da cena. Analisando a obra podemos notar que a Virgem está inchada mesmo (comum em casos de afogamento) e toda a luz presente na composição corta o suporte em diagonal, da parte superior esquerda, atingindo e explodindo no corpo sem vida da Virgem, como se Caravaggio quisesse mostrar que a morte é um dos grandes momentos da vida e de certa forma estivesse absolvendo à prostituta através de sua arte, sem hipocrisia ou idealizações, que é possível sublimar a tragédia, conferir beleza e a dignidade de um santo à uma vida humana comum e efêmera.

Fonte da imagem: Par Le Caravage — Ismoon (talk) 21:00, 23 November 2012 (UTC) from [1] modified with Photoshop., Domaine public, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=10258917

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