“O abraço” (1917), de Egon Schiele
Um abraço nunca é somente um gesto: também pode ser um carinho, a necessidade de dizer algo, um desespero. Na praia, dois corpos nus se esfregam, e podemos adivinhar o calor dos panos que lhes fornece pálido conforto, os grãos minúsculos de areia a se intrometerem no meio da voracidade de dois corpos, o sol repleto de vigor a vicejar em meio ao céu sem nuvens. O casal se entrega ao desejo e ao suor, sem dar atenção à nossa curiosidade de voyeur. O sexo sai da tela e se espalha pelo mundo, ruborizando os mais recatados, excitando os demais, que não conseguem afastar os olhos das curvas, pelos e urgências entregues ao prazer. Existe volúpia em um abraço, e os corpos contorcidos sobre o pano querem não se tornar um, mas destruir e assimilar o outro. Não resistem ao desejo, mas estão com medo de ceder por completo a ele. As mãos da mulher acariciam e afastam o homem, que se arremessa no lóbulo da sua orelha como se ali estivesse a chave do Eldorado. É um abraço tão intenso que os limites se perdem, e os corpos se distorcem em angústias improváveis, dissolvendo-se até que virarem o amálgama disforme de um sentimento. Também existe medo dentro de um abraço: nunca sabemos como o corpo do outro responderá, se a pele será flexível como imaginamos ou inesperadamente árida, se a outra será receptiva ou distante, se o abraço durará o fugaz encontro de dois objetos sólidos ou o abandono lânguido de quem sente algo. Nunca sabemos nada. No espaço entre duas vontades, mora todo um universo, e o toque são duas galáxias aprendendo a cantar juntas em meio ao vácuo da existência. Todo abraço contém em si a semente de uma esperança: será aquela a pessoa que desejo abraçar pelo resto da minha vida? Enquanto abraçarmos a pessoa amada, nunca morreremos. Afinal, no contato de dois corpos apaixonados, mora o infinito.