A literatura é uma daquelas coisas de que tanto falamos, mas somos, na maioria das vezes, incapazes de definir com uma conceituação exata. Claro que existem escolas e correntes literárias que delimitam a estrutura daquilo que seria a literatura, definindo suas especificidades e estipulando os requisitos necessários para que algo possa ser chamada de literatura.
Ocorre que para tanto se adota uma postura positivista, que pode ensejar em alguns problemas. De igual modo se poderia dizer de uma posição relativista sobre o tema, o qual também contém suas problemáticas. Como então melhor definir a literatura?
Todos os livros são literários? Que tipo de análise sobre um escrito deve ser feita a fim de apurar o caráter literário do texto? O que é e o que não é a literatura?
Dentre as tentativas de definição da literatura, Terry Eagleton exemplifica que seria possível “defini-la como a escrita “imaginativa“, no sentido de ficção“, mas que ao se refletir sobre a resposta, pensando em muito daquilo que é considerado literatura, tem-se que tal definição não confere.
Outra possibilidade de conceituação seria pelo emprego da linguagem de uma maneira peculiar, no sentido de que “a literatura transforma e intensifica a linguagem comum, afastando-se sistematicamente da fala cotidiana“, mas isso também não seria suficiente para preencher com louvor uma conceituação definitiva.
Assim, não se pode dizer que a literatura seja isso ou aquilo, já que, conforme aduz o Eagleton, “não existe uma “essência” da literatura“, pois “qualquer fragmento de escrita pode ser lido “não-pragmaticamente”, se é isso o que significa ler um texto como literatura, assim como qualquer escrito pode ser lido “poeticamente”.“.
Outro ponto importante que é levantado por Eagleton acerca da questão:
Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários, e a outros tal condição é imposta. Sob esse aspecto, a produção do texto é muito mais importante do que o seu nascimento. O que importa pode não ser a origem do texto, mas o modo pelo qual as pessoas o consideram. Se elas decidirem que se trata de literatura, então, ao que parece, o texto será literatura, a despeito do que o seu autor tenha pensado.
A mencionada problematização de uma postura relativista sobre a literatura também é explanada por Eagleton, assim como sobre a problemática em se adotar uma postura estritamente objetiva da questão. É uma das razões pelas quais o autor não fornece um conceito próprio da literatura. Antes, trabalha expondo e problematizando várias conceituações existentes.
Já arrisquei a dizer, e aqui reitero, que a literatura se justifica por si própria, independentemente de qualquer finalidade que lhe seja imposta. Reconheço a dificuldade de se tracejar os seus contornos, estruturando os limites impostos por uma definição objetiva, de modo que então prefiro não arriscar dando uma definição. Prefiro assim seguir observando a literatura enquanto um fenômeno. Deixo com os mais aptos a árdua tarefa da definição.
Definamos, portanto, as benesses da literatura. Aí sim, diversos exemplos podem ser apontados. Como ensina André Karam Trindade:
[…] a literatura atua na direção oposta à do entorpecimento da emoção que leva à pratica de atos desumanos e à impossibilidade de comunicação com o outro. Assim, se a obra literária mostra-se capaz de incitar, no plano da fantasia, o sentimento de empatia do leitor em relação aos acontecimentos narrativos e às personagens das histórias contadas – o que lhe possibilita participar, de maneira segura, da vida dos outros, experimentar outras situações -; no plano da realidade, ela conduz a refletir e a se posicionar criticamente a respeito de questões fundamentais do mundo prático.
Deste modo, sendo os resultados advindos da literatura mais visíveis do que a sua própria estrutura, tem-se que é mais fácil apontar para aquilo que da literatura se extrai do que para a conceituação de maneira específica em si.
Quanto à resposta para a pergunta presente no título desse escrito, eu não a tenho. Pergunto gentilmente então para você, leitor e leitora, podemos definir a literatura?
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. 6ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
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TRINDADE, André Karam. Direito, Literatura e Emancipação: um ensaio sobre o poder das narrativas. Revista Jurídica, v. 4, n. 44 (2016). P. 86-116. ISSN 2316-753X
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Very creaative post
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