Ela não imaginou que seria tão difícil. Na imaginação, tudo parecia mais simples: tirar a roupa de luto, sentar junto à mesa, pedir uma bebida, escutar música, olhar a vida se desenrolando ao seu redor. Sentir-se de novo parte do mundo. No entanto, foi só levar o copo aos lábios que a mulher entendeu: ele não voltaria. Estava longe, mais distante do que ela podia chegar. Nunca mais veria o seu sorriso, escutaria a sua risada, ralharia com seu detestável hábito de mastigar o palito de dentes – tudo estava irremediavelmente perdido. A imensidão da perda a atinge como um soco, e ela sente-se mergulhar em um cadinho de desespero e angústia, enquanto as pessoas, as cores, os sons e o universo se dissolvem na sombra inexistente que frequenta aquele salão, atormentando o lugar com a sua ausência repleta de culpa e de palavras não ditas no momento certo. Ela é jovem e bonita, mas sua alma carrega o sonho de uma vida que lhe foi arrancado de forma abrupta. Um homem sussurra promessas falsas e úmidas junto ao seu ouvido, mas não é a voz dele, não é e nunca será, e a mulher sente-se chafurdar no pântano das ilusões desaparecidas. Você precisa voltar a viver, todos lhe dizem. Você precisa ser feliz, mas ela não consegue e, no seu íntimo, sabe que a felicidade lhe foi negada; ela existiu por algum tempo e desapareceu, e agora a mulher terá que conviver, casca vazia e sem sentimentos, em busca de algo que nunca mais encontrará, enquanto as pessoas danças, cantam, bebem, se divertem, inconscientes de que ela não é mais uma mulher, mas angústia em forma humana, um grito de solidão que nunca cessa.
