Você com certeza já assistiu ou ouviu falar do filme Blade Runner, a produção cinematográfica que apesar de ter sido um fracasso nas bilheterias e tardiamente reconhecida, hoje em dia é considerado um filme clássico, principalmente por trazer referências de estilo Noir, efeitos especiais que até hoje são reverenciados e uma trilha sonora única. Baseado no livro “Os androides sonham com ovelhas elétricas?” de Philip K Dick, é um filmes mais fiéis a obra baseada.
A história no geral é a mesma: Rick Deckard é um caçador de recompensas que ao contrário da maioria da população, permaneceu na terra após uma duradoura guerra atômica. Fugindo das consequências dessa guerra, a maioria se mudou para colônias em Marte e alguns desses humanos receberam androides para realizar algumas tarefas já complicadas para um ser humano machucado pelas consequências da guerra. Esses androides não são robôs, são seres orgânicos criados em laboratório que são mais inteligentes, mais fortes, mas com um tempo curto de vida, que varia de três a quatro anos. Porém, como eles proveem de uma inteligência mais desenvolvida, alguns deles se juntaram e se rebelaram, fugindo para o planeta terra e se escondendo no meio da sociedade, já que fisicamente são iguais aos seres humanos e nisso, Rick Dekcard é chamado para aposentar eles.
É difícil comparar o filme com o livro e dizer que existe algum mais inferior ou superior, na verdade o sentimento que passa é que um completa o outro, como se fossem duas visões da mesma história. As coisas mais fantásticas ainda estão ali, como as dúvidas de o que separa esses androides da humanidade e outros questionamentos que surgem dentro de Deckard, chegando ao ponto em que ele se pergunta como ele pode ter certeza que também não é um androide manipulado por memórias falsas.
O livro obviamente tem mais espaço para criar e explicar diversas coisas que não foram para a adaptação, como mostrar que o ser humano desse universo pós-apocalíptico considera ter animais de verdade um status e como a maioria das raças não sobreviveu, se paga muito caro para, por exemplo, ter uma cabra no terraço do seu prédio, mostrar para os vizinhos e se gabar disso ou então comprar uma réplica praticamente idêntica e daí surge esse inteligentíssimo titulo.
Um ponto muito interessante é o próprio personagem principal, que praticamente tem outra vida. Aqui ele é casado, mantém uma relação infeliz por puro comodismo, é um homem muito inteligente que ama arte, música e isso até o ajuda a caçar uma andróide, uma artista de ópera que canta tão bem que o faz questionar se ela não deveria sobreviver, já que o mundo ia amar ter essa bela voz por aí. Ele também não gosta do seu emprego e sonha em ter um animal de verdade, como uma coruja, a qual tem quase que uma obsessão em ver um real algum momento da sua vida, já que desde pequeno só ouvia falar.
Outros personagens que estão no filme também estão aqui, como Rachel, que é muito parecida com a original, chegando a repetir muita das frases que a marcaram na obra. Pris e Roy também são os androides do mal que resistem a serem caçados e J R Isodore (que no filme é chamado de J.F. Sebastian), que sofre algumas mudanças. Aqui ele é um homem que sofreu com a poeira nuclear e teve seu cérebro afetado, sendo chamado de especial ou cabeça de galinha e por isso não pode viajar para as colônias, mas é manipulado pelos andróides da mesma forma.
A empatia é muito bem trabalhada aqui, pois segundo eles é a única coisa que difere essa linha tênue entre humanos e androides. Os androides não têm esse fator de se preocupar com o próximo e por isso são pegos em testes simples, como questionar se eles matariam tal animal se os vissem. Chega até ser curioso e fantástico ao mesmo tempo como em um universo futurístico não tão longínquo assim do nosso, a coisa que o ser humano menos tem atualmente é aquilo que poderia salvá-lo. Porém, quando Deckard percebe que alguns androides do modelo Nexus 6 podem desenvolver essa empatia, muitas duvidas sobem a sua cabeça e ele só quer completar a missão e mudar de emprego.
Temos um livro muito interessante que demora algumas páginas para desenvolver, mas quando chega ao ponto certo, você só consegue largar em seu vigésimo segundo e último capitulo. É uma obra fantástica que mostra um universo de tecnologias incríveis que usamos hoje em dia, mas que Philip imaginou em 1968.
Outro ponto são essas questões que ele coloca em seu personagem principal para se questionar sobre humanidade, nos trazendo diversas duvidas se o que sabemos de nós é real ou meramente plantado por outros?
É válido dizer também que alguns momentos desnecessários do livro foram tirados da obra cinematográfica, como o fato dele ser casado ou envolver religião. Momentos que são criados para dar mais humanidade a Deckard, mas que no fim das contas não tem muita serventia à história e por isso o filme e o livro se completam, pois ele consegue captar a real intenção do autor dentro desse maravilhoso mundo. Como o próprio Philip diz: é como se tivessem entrando dentro da minha mente.
Na atual versão do livro, ao final ele traz uma carta do autor aos produtores do filme, elogiando a produção e uma triste entrevista com o mesmo, pois se tratava da ÚLTIMA entrevista dada de Philip e o mais doloroso é que dá para sentir sua energia e ansiedade durante a entrevista e mais triste ainda por ele nunca ter chego a ver a versão final, já que morreu alguns meses antes do filme ficar totalmente pronto.
Trilha sonora sugerida para leitura do livro: Vangelis
Fonte da imagem: https://www.amazon.com.br/Androides-Sonham-com-Ovelhas-El%C3%A9tricas/dp/8576571609