Seth Siro Anton, INSECT FIGURA, arte digital, 60x60cm, 2007.
Para a coluna de hoje, resolvi prestigiar o trabalho de um artista pouco conhecido do grande público de arte e que além de artista visual, também é músico. Spiros Antoniou, conhecido como Seth Siro Anton é um artista grego, vocalista e baixista da banda Septicflesh, cujo estilo se denomina como death metal sinfônico. Essa informação é importante, pois seu trabalho no campo das artes, esta completamente alinhada com sua música. Conheci o trabalho de sua banda recentemente através de um amigo e pesquisando a respeito, descobri que já tinha contato com suas obras há muito tempo, pois seu trabalho estampa as dos CD’s de várias bandas que eu já conhecia, e que uma de suas maiores influências nas artes é o pintor Francis Bacon. Seth Siro Anton já expôs ao lado de grandes artistas do gênero como HR Giger, Olivier de Sagazan, Eric Lacombe, Bastien Lecouffe Deharme, Patrice “Pit” Hubert, Amaury Grisel, Andy Julia, Akiza, Jérôme Sevrette, Alyz Tale, Eric Keller.
Seth Siro se utiliza de técnicas mistas que mesclam fotografia, pintura, colagem e softwares de pintura digital para produzir suas obras. O que mais chama mais atenção em suas obras é a harmonia com que ele compõe suas pinturas, mesmo trabalhando com elementos tão sombrios. Artistas como Seth Siro reacendem o debate levantado por Arthur Schopenhauer, de que embora nós todos estamos sujeitos ao sofrimento mas que através da arte, podemos nos libertar e nos elevar através da objetificação de nossa vontade. Não vou me aprofundar nos argumentos apresentados pelo filósofo que foi grande influência de Nietzsche, mas caso seja do interesse dos leitores do site, deixarei alguma referências bibliográficas ao final do texto.
A obra que escolhi para realizar uma análise estética é a obra INSECT FIGURA de 2007. Nessa obra, o artista nos apresenta um retrato de uma mulher em uma pose clássica da pintura de retratos dos séculos passados. A posição das mãos à altura do queixo, a postura, os tons utilizados, nos lembra da pintura maneirista, exagerada e rebuscada. Através do que parece ser uma coroa, temos a sensação de que se trata de um tipo de rainha dos insetos e é o primeiro elemento de ligação com o título da obra. O interessante neste detalhe é que o artista trabalhou essa parte da pintura através da ilustração digital, mas a primeira vista o adorno nos chama atenção por sua delicadeza, a ponto de tentarmos descobrir como a peça foi construída. O segundo elemento que faz referência ao título são os insetos atrás da figura. Analisando o corpo, não fica muito claro se trata realmente de pintura digital ou se ele pintou o corpo de uma modelo com grande massa de tinta e a fotografou ou se realmente criou a pintura em algum suporte tradicional e digitalizou. O fundo é tons escuros e neutros e apresenta o que parece ser um objeto fotografado e tratado digitalmente, o que lembra a técnica de colagem digital utilizada por Dave McKean.
O mais interessante na obra é a referência ao pintor Francis Bacon, que utilizava grandes camadas de tinta para criar corpos distorcidos. O efeito de distorção na figura apresentada por Anton é acentuada na região do útero da figura, o que torna a obra enigmática, arcana e extremamente tétrica.
Referências Bibliográficas:
SCHOPENHAUER, A. Dores do Mundo. Tradução: José Souza de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Brasil Editora, 1960.
SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e Representação. Tradução: M. F. Sá Correia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.
SCHOPENHAUER, A. Da Morte. Metafísica do Amor. Do Sofrimento do Mundo. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002.