Nascida no dia 21 de fevereiro de 1903, em Neuilly, nas proximidades de Paris, filha de pais cubanos, Anaïs Nin é sempre lembrada quando o assunto é literatura erótica. Amiga de grandes escritores de sua época como D. H. Lawrence e Henry Miller, Anaïs deixou como legado obras que eternizam seu nome como um dos mais célebres da literatura do século XX.
Apesar de ser conhecida principalmente por seus contos eróticos, a autora também é referência quando se fala em literatura feita por mulheres. Discípula de Sigmund Freud e Otto Rank, Anaïs Nin afirma que existe uma escrita feminina, que se diferencia da masculina em razão da dessemelhança que existe entre os gêneros na maneira como vivenciam a sexualidade.
No prefácio de seu famoso Delta de Vênus, antologia de contos que teve origem na época em que a autora passava por uma série de dificuldades financeiras, tendo sido escrito sob encomenda por um colecionador de histórias eróticas, Anaïs comenta sobre as divergências que surgiram entre ela e o cliente, que exigia dela que utilizasse uma linguagem menos poética e mais descritiva. A autora afirma:
“Eu tinha certeza de que o velho não sabia nada sobre os arrebatamentos, os êxtases, as reverberações estonteantes dos encontros sexuais. Cortar a poesia – esta era a mensagem dele. O sexo clínico, privado de toda a calidez do amor – a orquestração de todos os sentidos, toque, audição, visão, paladar; todos os acompanhamentos eufóricos, música de fundo, climas, atmosfera, variações, forçavam-no a servir-se de afrodisíacos literários”. (P.10)
“Quanto você perde com esse periscópio na ponta de seu sexo, quando poderia desfrutar de um harém de maravilhas distintas e nunca repetidas? Não existem dois cabelos iguais, mas você não nos deixará gastar palavras na descrição do cabelo; não existem dois odores iguais, mas se nos estendermos nisso você gritará: corte a poesia”. (P.14)
No pós-escrito da obra, a autora afirma ainda que durante muito tempo acreditou ter suprimido a poesia de seus contos eróticos, por influência das ordens do colecionador, porém, após uma leitura distanciada da época da escrita, ela percebe que suas personagens são essencialmente femininas.
“Em numerosas passagens usei intuitivamente uma linguagem de mulher, vendo a experiência sexual do ponto de vista da mulher. Finalmente decidi liberar a erótica para publicação, porque mostra os esforços iniciais de uma mulher em um mundo que fora de domínio dos homens.” (P.16)
Concluindo, para Anaïs Nin, a escrita erótica feminina é a própria tradução da sexualidade da mulher e sendo assim, utiliza uma linguagem poética, enquanto a linguagem masculina, mais descritiva, exemplifica a maneira como os homens vivenciam a sua sexualidade.
Temos, abaixo, trechos do conto “Marianne, ” que faz parte da coletânea Delta de Vênus.
“Essa jovem, Marianne, era pintora, e datilografava à noite para ganhar um dinheiro. Tinha uma aureola de cabelos dourados, olhos azuis, rosto redondo, seios fartos e firmes, mas tinha tendência a ocultar a opulência de seu corpo em vez de exibi-la, de disfarça-la sob trajes boêmios disformes, jaquetas folgadas, saias de colegial, capas de chuva. Ela vinha de uma cidade pequena. Tinha lido Proust, Krafft-Ebing, Marx, Freud. (…) Nada a havia tocado profundamente. Ainda era virgem. Eu podia sentir isso quando ela entrava na sala. Do mesmo modo que um soldado não deseja admitir que está amedrontado, Marianne não queria admitir que era fria, frigida. Mas estava fazendo psicanálise”. (P. 86)
No ano de 1995, foi lançado o filme “Delta de Vênus”, baseado na obra de Anaïs Nin. Falarei sobre ele em outro post.
Referências:
Nin, A. Delta de Vênus. Porto Alegre: L&PM, 2016.
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Referência da imagem: http://blog.estantevirtual.com.br/2016/01/14/cinco-frases-e-cinco-livros-de-anais-nin/
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