Bukowski nunca foi um autor muito fácil de engolir e com certeza não é aquele que a unanimidade gosta ou idolatra. Existe uma frase que eu sempre uso para justificar gostar de suas obras: “eu amo odiar aquele velho. Gosto de como ele escreve, mas não do que ele escreve.”. Depois de tantos livros caminhando no mesmo ritmo e falando mais ou menos das mesmas coisas, confesso que Pulp foi uma grata e curiosa surpresa. Afinal, era um livro que mistura um conto sobre um detetive, com fortes referências ao universo noir, mas também tem diversas pitadas de fantasia e ficção científica. Quer dizer, é o pacote completo.
Para quem desconhece a obra, vou explicar: Pulp conta a saga de Nick Belane, um detetive de segunda categoria de Los Angeles. Percorrendo o universo noir, Nick começa a arranjar diversos clientes estranhos, que pedem para ele investigar casos mais estranhos ainda, além de obviamente termulheres sedutoras e brigas com garçons de praticamente todos os bares da cidade.
Pulp foi o último romance do velho Bukowski, terminando a obra pouco tempo antes da sua morte, em 1994, aos 73 anos. Então, era de se esperar que um leitor acostumado com suas outras obras, mais cruas e sujas, encontrasse aqui, um autor mais maduro e cansado. Mas, ao mesmo tempo em que essas especulações se encontram no papel, há uma surpresa em sentir um novo vigor, era como se ele estivesse se renovando dentro de toda aquela sujeira que estamos acostumados. Até porque esse é um dos poucos livros que li do autor que praticamente não tem algumas páginas descrevendo o ato sexual do personagem principal (aliás, o personagem principal não transa) e aborda temas mais fantásticos como a morte e aliens!
Apesar de não haver certeza, sempre se especulou que Charles botava muito de si nos seus personagens, então é bem provável que por isso Belane seja um dos seus personagens mais contidos e maduros, você sente uma forte melancolia nele, como se já estivesse se desligando do mundo gritante e deixando a vida levar. É essa falta de agressividade no personagem que o torna um dos seus melhores já escrito, ele está sempre na defensiva no meio em que vive e as pessoas a sua volta que vão desenvolvendo a trama, ele acaba se tornando um personagem bem passivo, mas nem por isso desinteressante, seu charme é inegável.
Há muitas analogias e subjetividades aqui, ele está sempre conversando com a personagem que chama de “Dona Morte” e várias vezes ela o salva, por que no fundo tem uma atração por ele. É interessante demais como essa personagem conduz e o protege até um certo momento e como isso pode estar totalmente ligado ao próprio autor de encarar seu provável futuro.
Para quem já leu mais um livro de Bukowski, com certeza irá sentir uma enorme diferença entre Pulp e todos os outros, desde sua narrativa até o seu final, que acontece de uma forma muito bela e bem distante dos finais que estamos acostumados. Mas uma coisa é garantida, é o livro mais fácil de ser devorado. A história se torna tão interessante, que é quase impossível querer parar.
Uma última curiosidade e o maior motivo do porque gosto tanto de como o autor escreve. Logo no começo do livro, na parte de dedicatórias, está lá escrito: “Para a subliteratura“.