As cartas portuguesas surgem do apelo de uma freira para que o seu amante retorne e cumpra a promessa feita antes de sua partida. A autoria dessas cinco cartas que constituem a obra é creditada à Mariana Alcoforado (1640-1723), porém, ainda hoje se discute se as cartas foram escritas pela jovem portuguesa.
Mariana Alcoforado, oriunda de uma família nobre, envolveu-se com o Marquês Noel Bouton de Chamilly, Conde de Saint-Léger e oficial francês que lutou em seu país durante a Guerra da Restauração. O escândalo causado pelo relacionamento teria sido o responsável pela partida de Chamilly, que deixou o país sob a promessa de retornar para buscar a jovem freira que vivia no Convento de Nossa Senhora da Conceição na cidade de Beja, em Portugal.
Ao longo das cinco cartas, Mariana mantem um tom pessimista, embora em alguns momentos ela demostre alguma esperança de que o amante retorne. Porém, na maior parte da obra, Mariana mostra-se ressentida por saber-se abandonada por alguém pelo qual ela teria arriscado a reputação e a vida. Na última carta, Mariana afirma que irá cessar a correspondência, convencida de que o amante a esqueceu.
Pouco se conhece a respeito da suposta autora das cartas. Sobre Mariana Alcoforado sabe-se apenas que ela morreu em idade avançada e que chegou à posição de abadessa no convento em que vivia na época de seu romance com Chamilly.
Abaixo, temos alguns trechos das cartas de Mariana a Chamilly:
1ª carta: “Considera, meu amor, a que ponto chegou a tua imprevidência. Desgraçado! Foste enganado e enganaste-me com falsas esperanças. Uma paixão de que esperaste tanto prazer não é agora mais que desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa. ”
2ª carta: “Creio que faço ao meu coração a maior das afrontas ao procurar dar-te conta, por escrito, dos meus sentimentos. Seria tão feliz se os pudesse avaliar pela violência dos teus! Mas não posso confiar em ti, nem posso deixar de te dizer, embora sem a força com que o sinto, que não devias maltratar-me assim, com um esquecimento que me desvaira e chega a ser uma vergonha para ti. ”
3ª carta: “Ai, como sou digna de piedade por não partilhar contigo as minhas mágoas, e ser só minha a desventura! Esta ideia mata-me, e morro de terror ao) pensar que nunca te houvesses entregado completamente aos nossos prazeres. Sim, reconheço agora a falsidade do teu arrebatamento. Enganaste-me sempre que falaste do encantamento que sentias quando eslavas a sós comigo.”
4ª carta: “Quanta inquietação me terias poupado se, quando nos conhecemos, o teu procedimento fosse tão descuidado como o é agora! Mas quem, como eu, se não deixaria enganar por tantos cuidados, e a quem não pareceriam verdadeiros? Que difícil resolvermo-nos a duvidar da lealdade de quem amamos!”
5ª carta: “Descobri que lhe queria menos do que à minha paixão, e sofri penosamente em combatê-la, depois que o seu indigno procedimento me tornou odioso todo o seu ser. O orgulho tão próprio das mulheres não me ajudou a tomar qualquer decisão contra si. Ai, suportei o seu desprezo, e teria suportado o ódio e o ciúme que me provocasse a sua inclinação por outra! Ao menos, teria qualquer paixão a combater. Mas a sua indiferença é intolerável.”
Referências:
ALCOFORADO, M. As cartas portuguesas. Porto Alegre: L&PM, 2007.
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Referência de imagem:
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