Leda Lacintra, Alice in Wonderland, fotografia e arte digital, 2017.
A fotografia com um toque fantástico se tornou bastante popular há alguns anos, e muitos artistas internacionais criam obras belíssimas aliando fotografia à arte digital. Leda Lacintra, fotógrafa brasileira, é uma das poucas no país a criar dessa maneira com maestria. O mais interessante de seu trabalho é que ela não fotografa modelos magérrimas e perfeitas, mas pessoas normais, dirigindo-as para que as imagens, após edição e adição de elementos, se tornem verdadeiras obras de arte.
Esse é o caso da obra de hoje, uma recriação de uma cena de Alice no País das Maravilhas, inspirada tanto no livro de Lewis Carroll, quanto no longa de Tim Burton, para um ensaio de 15 anos. O momento representado é aquele no qual Alice está perseguindo o coelho e acaba caindo em sua toca, em direção ao País das Maravilhas.
“A toca seguia reta como um túnel, porém afundava de repente, tão de repente, que Alice, sem perceber, acabou mergulhando num poço muito profundo.
Ou o poço era realmente muito profundo, ou ela caía muito devagar, aproveitando para olhar em volta e perguntar o que haveria de conhecer em seguida. Como o fundo do poço era muito escuro, ela passou a observar com mais atenção as paredes, percebendo que estavam cheias de guarda-louças e estantes […].”
Além de aparecerem na descrição do escritor, as xícaras também fazem alusão ao chá interminável do Chapeleiro. A chave, um dos elementos desfocados em primeiro plano, foi encontrada pela personagem logo após a queda, sobre uma mesa, quando se encontrava em uma sala repleta de portas, enquanto que as cartas de baralho representam a Rainha de Copas e seus soldados.
Para criar o efeito de queda, a artista pediu à modelo que se sentasse em um banquinho, posicionando os braços e pernas como se estivesse caindo. Em seguida, o fundo, parte do Parque do Ingá, em Maringá, no Paraná, foi fotografado sem a cena. Após unir as imagens, apagando o banquinho, finalmente foram adicionados os objetos, também fotografados separadamente, usando a mesma luz natural usada para o fundo e a modelo.
É interessante notar que os objetos estão desfocados no primeiro plano, mais perto da câmera; em foco mais ao centro, no segundo plano junto à Alice; e tornando-se novamente fora de foco no terceiro plano. O desfoque é gradativo, mais ou menos da mesma maneira que aconteceria se eles realmente estivessem na cena, naquelas posições, sendo captados pelas lentes. Efeitos de luz e sombra também foram adicionados na pós-produção para criar uma aura de mistério.
Bibliografia:
Lewis CARROLL, Alice no País das Maravilhas, São Paulo, Cosac Naify, 2009. Tradução de Nicolau Sevcenko.
Fonte das imagens:
Acervo de Leda Lacintra.
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*Sobre a coluna OBRA DE ARTE DA SEMANA: Aline Pascholati, Marina Franconeti e Wagner Galesco se alternam escrevendo sobre obras de arte de diversas épocas às terças-feiras.