Pelas ruas das cidades de Colmar e Strasbourg, na região da Alsácia, na França, é possível encontrar ecos do Natal que reverberam pelos mercados desde o século XVI. As luzes enfeitando a cidade, o reflexo nos canais e o frio invernal compõem todo o ideário alimentado pela história dessa nostalgia melancólica e mágica do Natal.
O primeiro mercado de Natal ocorreu em Viena, no dia 6 de dezembro de 1294 à São Nicolau. Os primeiros traços dos mercados de Natal também remontam ao início do século XIV na Alemanha, sob o nome de “Mercado de São Nicolau”. O primeiro documento que descreve um mercado de Natal é datado de 1434 durante o reinado de Frederico II da Saxônia. Mais tarde, a Reforma perpetuou a tradição ao renomeá-lo “Christkindlmarkt” (mercado do menino Jesus). Em Strasbourg, o mercado de Natal existe desde 1570.


Se a viagem a Colmar e Strasbourg for de trem ou de ônibus, o visitante poderá encontrar regiões montanhosas enfeitadas por altos pinheiros, casas pequeninas e coloridas abandonadas pelas famílias que habitam na região, as quais se refugiam na direção contrária às dos turistas que vão à Colmar e Strasbourg buscando a grande aura natalina. O primeiro choque é constatar esse abandono, casas e ruas silenciosas, quase fantasmagóricas, entre o sol de inverno.
Ao chegar em Colmar, porém, a pequenina cidade se encontra cheia de uma multidão festiva e convida para um passeio à pé, possibilitando conhecê-la em um dia pelos cinco mercados de Natal que a tomam por inteiro. O centro de Colmar contém inúmeros tesouros arquitetônicos, como monumentos, igrejas, museus, becos mantidos desde a Idade Média ou construídos no século XIX. Para visitar, há a Maison Pfister, o Koïfhus, o Museu Unterlinden, a Pequena Veneza (La Petite Venise), a Maison des Têtes e o Collégiale Saint-Martin.
Entre o curto tempo de visita de um final de semana para duas cidades, a Pequena Veneza e a Maison des Têtes são as paradas obrigatórias. A primeira tem esse nome, de “Pequena Veneza”, por remeter aos canais venezianos. O alinhamento original das casas dos dois lados do rio, situado ao sudeste da cidade, corrobora para o título, com passeios de barcos pelo canal. À noite, na época natalina, a Petite Venise ganha uma bela decoração e iluminação à noite, com coral concentrado nas redondezas e casas pequeninas, com vitrines também enfeitadas.

A Maison des Têtes é uma casa construída em 1609, em nome do marchand Antoine Burger, prefeito de Colmar de 1626 a 1628. Foi restaurada em 1738 e classificada como um monumento histórico em 6 de dezembro de 1898. A arquitetura é de estilo renascentista, feita por Hans Burger. A sua peculiaridade são as 106 cabeças humanas que a adornam a fachada, por isso ganhou o nome de “casa das cabeças”.


Por entre as ruas e becos da cidade, os cinco mercados de Natal se amontoam numa grande massa de luz cintilante onde as pessoas se acumulam para aliviar o frio com vinho quente, comer pretzels doces e salgados, maçãs-do-amor, bolos, biscoitos natalinos e crêpes. O sentimento de tempo enclausurado em séculos passados é forte ao andar por entre as construções, os paralelepípedos e as músicas de artistas de rua. Em algumas horas, a sensação é de habitar uma aldeia oriunda de contos de fadas, histórias fantásticas e contos medievais.
No caso de Strasbourg, a cidade é considerada a “capital do Natal”, com o centro classificado como patrimônio mundial da UNESCO, e um dos mais antigos mercados natalinos da Europa. Uma ao lado da outra, as barracas em Strasbourg trazem comidas típicas, doces e bebidas natalinas, comidas de outras partes do mundo, e inúmeros trabalhos artesanais encantadores.


A Catedral Notre-Dame de Strasbourg é o ponto principal a ser visitado. Por entre os becos, ela se apresenta aparentemente pequena para, ao fim, ser vista em sua totalidade: uma catedral massiva, de inúmeros detalhes na fachada, com portas altas vermelhas e com um aspecto de ouro velho por entre a pedra de sua arquitetura. O início do trabalho de construção da catedral se deu em 1176, e foi finalizada em 1439, sofrendo diversas restaurações desde então. No seu interior, a catedral possui uma das mais belas surpresas, um relógio astronômico o qual se movimenta a cada hora diante dos olhares surpresos do público. Victor Hugo a definiu como “prodígio do gigantesco e do delicado”.


O Natal em ambas as cidades possui, assim, um gosto familiar de cerimônias imaginadas e celebradas por outros povos antigos que passaram pela Europa. Os séculos formulam as construções, os becos e as tradições que perduram por entre o artesanato e a comida do mercado. A cidade acaba por se tornar uma grande festa coletiva em uma aldeia élfica, pertencente ao sonhos infantis e às preces de marinheiros, comerciantes, arqueiros, ladrões, crianças e estudantes ao santo padroeiro São Nicolau.
Fontes: Esta matéria foi escrita a partir da viagem que fiz em 2015 para as cidades de Colmar e Strasbourg, mais as informações dos sites oficiais (aqui e aqui).
Philippe Wendling, La merveilleuse histoire des marchés de Noël d’Alsace, Vent d’Est, Strasbourg, 2014.