Se procurarmos no dicionário a definição de transgressão, vamos encontrar os seguintes significados: 1. Ato ou efeito de transgredir; 2. Infração; violação ou não cumprimento de uma lei, ordem ou regulamento […]; 3. Ação ou efeito de transgredir, de infringir, de violar.
Ao pensarmos em como as coisas são construídas historicamente em nossa sociedade, é possível perceber que os conjuntos de padrões que nos são colocados (formas de se vestir, pensar sua sexualidade, corpos ideais etc) se configuram como uma lei, ordem ou regulamento em nós. Posso dizer então que, ao rejeitar esses modelos pré-estabelecidos, houve um processo de transgressão? E cabe aqui uma outra pergunta: as diversas manifestações artísticas (cinema, literatura, escultura etc) costuma tanto representar os tais padrões, quanto questioná-los, virar tudo do avesso, criar novas tendências.
O objetivo deste texto foi, desde o seu início falar da produção literária de Anaïs Nin, mas seria impossível falar dela sem antes trazer as reflexões sobre a transgressão. Afinal, a escritora francesa foi, e pode-se dizer que ainda é, uma transgressora. Primeiro, vamos a algumas passagens históricas que parecem mais do que necessárias para que possamos discutir as questões que seguem: Anaïs Nin nasceu em Neuilly-sur-Seine, em 21 de fevereiro de 1903 e faleceu em Los Angeles no ano de 1977. Não é preciso dizer que tipo de discursos circulavam sobre a mulher nesse período, certo?
Foi nesse período que a francesa começou a sua vasta produção erótica. Muitas de suas produções bibliográficas estão presentes em seu diário pessoal, que teve sua publicação autorizada somente após a morte de seu marido. Passando pelo material produzido por ela, e aqui incluímos contos, romances, relatos, temos o conhecido “Vênus erótica”, um conjunto de histórias encomendadas por excêntrico cliente misterioso. A obra foi aclamada pela crítica na europa e nos Estados Unidos na época. Outra importante produção bibliográfica de Anaïs Nin é “Henry & June”, um conjunto de escritos que fala da relação entre a autora e o também conhecido escritor de histórias eróticas, Henry Miller. Acrescenta-se também “Uma espiã na casa do amor”, um romance sobre as descobertas sexuais de uma jovem e seu impasse com relação às exigências sociais; a obra “incesto”, que narra o momento conturbado da vida da autora entre os anos de 1932 e 1934; isto só para ficarmos em alguns.
Todas as obras acima recebem uma maior importância por estarem inseridas no movimento feminista e da revolução sexual e também nas descobertas psicanalíticas. Sobre esta última, pode-se dizer que todas as suas produções literárias traziam, além da poesia no erotismo, toda uma relação dos impulsos sexuais ao ser e seu inconsciente. Os desejos mais profundos eram colocados sob a luz do sol pela autora. Como não lembrar do conto “A mulher das dunas” (publicada na coletânea “Pequenos passarinhos: histórias eróticas”) e o momento da execução de um homem, enquanto a personagem se relacionava sexualmente com alguém no meio da multidão. Isto nos põe a pensar, o que é esta estranha relação entre morte e prazer? Se isso não faz sentido para você, já parou para pensar que filmes, livros e séries sempre incluem de alguma forma a morte e aquilo nos envolve e nos fascina tanto? Pois então, as produções de Nin são eróticas porque são também poéticas e lidam com o desejo, a morte, o estranho e o inaceitável.
Anaïs Nin é uma transgressora. E uma transgressora de si mesma. Ao tornar seus diários sua produção literária e sua produção literária sua biografia, ela própria se tornou uma obra de arte.
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