As esquinas se sucedem, sempre diferentes, sempre a mesma. Você anda com a sensação de não sair do lugar; o ar saturado de poluição envenena o seu corpo aos poucos. Todas as pessoas lançam olhares estranhos, e você consegue ver a crítica ao modo com que se veste, à forma com que caminha, ao seu comportamento. Mesmo sem querer, você se encolhe diante de tamanha pressão, os passos rápidos e furtivos. A Cidade é um labirinto sem Minotauro, uma boca perversa repleta de dentes ansiosos para se cravar na sanidade dos infelizes sem rumo que deslizam pelas suas ruas. Monumentos para deuses e homens desconhecidos marcam a sua trajetória, dividindo espaço com colunas feitas em um estilo que desafia o cansaço dos tempos. Uma moça lhe oferece uvas, e o cheiro doce mistura-se ao caos dos seus pensamentos. Diferentes pessoas em diferentes distâncias e perspectivas estão perto, longe, em todos os lugares, e todos a lhe julgar, a lhe condenar, a cochichar. Cercado por rostos distorcidos que se misturam em uma canibalesca mistura, aqui um olhar mais incisivo, lá um cílio inesperadamente erguido, ali uma voz rasgante, você nunca sentiu tanta solidão. A Cidade é um buraco repleto de desilusões e de gritos interrompidos, com risadas frenéticas que cortam o rugido dos carros. Você pode abrir uma porta e estar em Pequim, Londres, o inferno ou o lugar que só existe na sua imaginação. A Cidade é uma máquina feita com o propósito de enlouquecer e de confundir e, em meio às suas engrenagens, você não passa de um pião atormentado, batendo de um lado para o outro à espera do dia em que a Morte enfim lhe alcançará.
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As palavras perfeitas para o que eu sinto. Tanto em relação a obra quanto de caminhar pelo centro da cidade.
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