Você tem desequilíbrio literário? Costuma ler sempre com a mesma frequência? O número de páginas lidas a cada semana costuma se manter de forma coesa ou oscila freneticamente? Possui um ritmo (pré)determinado ou a leitura flui na medida do possível ou do aproveitável?
Já tem um tempo que vejo circulando entre amigos uma frase nas redes sociais. É algo como “ou eu leio 400 páginas num final de semana, ou levo um mês para ler 200”. A mensagem traduz um sintoma daqueles que não possuem o tal do equilíbrio literário. Seria este um mal?
Penso que os que são acometidos pelo desequilíbrio literário não necessariamente sofrem de um tipo de moléstia. É apenas uma condição. Nada além disso. Cada leitor tem seu próprio ritmo, o que lhe dá o direito inclusive de não ter qualquer ritmo. Além disso, diversas podem ser as razões que levam a esses picos de muita e pouca leitura em diferentes períodos.
Tomemos um romance clássico como exemplo de leitura. Um leitor pode ter acabado de ler uma obra mais “fácil”, cujo tipo de escrita mais “corrida” torna o processo de leitura mais rápido. Por ‘rápido’ pode se entender tanto o tempo que o leitor leva para correr com seus olhos pelas linhas de cada página, como o tempo menor que também leva para absorver o que está ali posto diante da menor complexidade do livro. Nesse sentido, o leitor poderia ter iniciado e concluído a leitura num mesmo final de semana. Ao passar para o próximo livro da lista, o romance clássico do nosso exemplo, a leitura pode se tornar um pouco mais pesada, e isso pode ser dar por motivos em sentido contrário àqueles que possibilitaram uma leitura mais rápida do livro mais “fácil”. Mesmo que tenha o mesmo número de páginas, o romance clássico pode se tratar de uma literatura mais complexa. Assim sendo, o leitor necessita de mais tempo para absorver aquela bela escrita. Pode ser fazendo pausas entre capítulos, por exemplo. O leitor, ao se dar conta do brilhantismo daquela grande história, pode se recusar a avançar de um capítulo para o outro sem que antes faça um exercício de autorreflexão. Pode ser também que o estilo de escrita seja mais bem elaborado, resultando na necessidade de uma leitura muito mais atenta e profunda, ensejando assim num investimento maior de tempo no processo de leitura da obra. Daí que entre um livro e outro podem surgir disparidades no tempo de leitura de cada um. Enquanto o romance mais simples foi lido em um final de semana, aquele mais complexo só pode ser lido após o leitor investir um mês nele. Eis um motivo possível para o desequilíbrio literário.
Outro fator que gera o desequilíbrio também pode ser exemplificado com as circunstâncias que circundam a vida do leitor. Um mês de férias pode render mais leituras que aqueles meses em que os dias são ocupados com trabalho e faculdade. Um final de semana de descanso numa afastada casa de campo pode resultar num melhor aproveitamento de leitura do que aquele que se passa em casa – considerando aqui todas as distrações do cotidiano (celular, internet, redes sociais, Netflix…). Uma noite de sexta-feira preenchida com uma festa não resulta em páginas lidas, enquanto que em outra mais monótona aquele livro pode acabar sendo retirado da estante, vindo a ser lido. Enfim, circunstâncias e circunstâncias.
A preguiça também deve entrar na lista. Ela acomete eventualmente a todos nós, leitores. Por mais fiéis que sejamos aos nossos livros, vez ou outra a preguiça se torna mais convidativa do que as páginas daquele livro que nos aguarda. Claro que há níveis diferentes dessa preguiça. Há preguiçosos contumazes (geralmente o tipo insuportável de resmungão que adora “justificar” a não leitura [ou leitura atrasada] com a suposta falta de tempo) e aqueles que podem se dar ao luxo de vencer a tentação de abrir o livro para fazer qualquer outra coisa – o que já nem seria tanto um tipo de preguiça. Mesmo que se tenham diversos fatores, esses se dividem em tipos e formas. É por isso que não se pode entender a “preguiça” de uma única forma. Ela possui seus vários tipos – podendo ser qualquer deles responsável pelo desequilíbrio literário.
Diversos outros fatores poderiam entrar numa lista – quiçá interminável. Desinteresse surgido sobre determinado livro que começou a ser lido, cansaço gerado por uma leitura mais complexa, acontecimentos diferentes a cada dia, semana e mês, circunstâncias pessoais de cada leitor, enfim, uma série de razões podem situar o desequilíbrio literário mais como uma condição do que como um mal. Há, é claro, situações em que a regularidade acaba sendo vantajosa (situar-se no período de provas na faculdade, ser resenhista de algum portal, ocupar o papel de revisor ou avaliador de livros, ser professor, entre vários tantos outros exemplos possíveis). Ponto para os mais metódicos (podendo ser intencionais ou espontâneos nessa regularidade) nesse caso. Ainda assim, dificilmente a regularidade da leitura se dá num número exato. Mas se tratam de casos que não vem ao caso, uma vez que, pelo menos na maioria das vezes, o desequilíbrio literário nada tem de ruim. É uma mera condição que pode ser assumida pelos leitores sem qualquer problema.
Retomo então a pergunta que inaugura o texto, concluindo-o: você tem equilíbrio ou desequilíbrio literário?
Fonte da imagem:
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