Albrecht Dürer, Autorretrato ou Retrato do artista segurando um cardo, óleo sobre velino transposto sobre tela, 56x44cm, 1493.
Este retrato de Albrecht Dürer, pintor da Renascença alemã, é um dos primeiros autorretratos independentes da pintura ocidental. Desde o final da Idade Média, os artistas se representavam em meio a algumas de suas obras, de maneira totalmente secundária, como uma espécie de assinatura. Aqui, Dürer, aos vinte e dois anos, se representa em vestes elegantes, em uma composição típica dos retratos aristocráticos da época, com o retratado iluminado sobre um fundo escuro. Assim, ele traduz a vontade de elevação social dos pintores da época e a passagem da Idade Média à Renascença.
Os detalhes minuciosos, por exemplo, as dobras da camisa e os pelos da barba no queixo, seguem a tradição do detalhe dos primitivos flamencos e atestam a formação de ourives do pintor, arte extremamente detalhista.
Sobre sua cabeça, encontramos uma inscrição com o ano de execução da obra, 1493, e os dizeres « Myj sach die gat/Als es oben schtat », significando, em holandês, “As coisas que me acontecem são como escritas lá no alto”. Ou seja, o artista atesta sua devoção e aceitação à vontade de Deus, em antecipação ao seu retrato de 1500 no qual aparece como Salvator Mundi, o Salvador do Mundo, Jesus Cristo.
Seguindo essa ótica, é possível pensar no cardo que o artista segura como uma alusão à Paixão do Cristo, com a aparência da planta fazendo alusão à coroa de espinhos do Cristo.
A obra também já foi interpretada, desde o escritor Goethe, como um presente de casamento do artista à sua futura esposa, Agnès Frey, com o qual se casou no ano seguinte, já que em alemão o cardo é chamado de mannstreu, ou seja, fidelidade de marido. Entretanto, os historiadores possuem dúvidas quanto a essa interpretação, pois Dürer viajava na época da realização da pintura, enquanto seu pai arranjava seu casamento com a rica herdeira que lhe daria um dote que lhe permitiria a abertura de seu atelier em Nuremberg. Ou seja, ele poderia simplesmente não saber desses preparativos quando da pintura do retrato.
Bibliografia:
Luca BACHECHI, Emanuele CASTELLANI, Francesca CURTI, Les chefs-d’oeuvre du Musée du Louvre, Paris, Place des Victoires, 2009, p. 138-141.
Adéline COLANGE, “Autoportrait ou Portrait de l’artiste tenant um chardon” in Louvre, [Online]. Consultado em 14/05/2018.
https://www.louvre.fr/oeuvre-notices/autoportrait-ou-portrait-de-l-artiste-tenant-un-chardon
Fontes das imagens:
fr.wikipedia.org/wiki/Portrait_de_l%27artiste_tenant_un_chardon#/media/File:Albrecht-self.jpg
fr.wikipedia.org/wiki/Albrecht_D%C3%BCrer#/media/File:D%C3%BCrer_-_Selbstbildnis_im_Pelzrock_-_Alte_Pinakothek.jpg