A frase-título do presente escrito é de Mario Sergio Cortella, presente em um de seus livros, a qual aqui transcrevo, pois traduz algo que certamente compartilho com muitos dos leitores:
momento de felicidade banal é quando começo a olhar e admirar algum dos meus 6 mil livros. Cada um dos livros em que mexo é um pedaço da minha história. Eu olho para um deles e me lembro de quando e por que o comprei, se li ou não – pois há livros que a gente compra, mas não lê ou só lê um pedaço, mas que a gente compra porque não quer não o ter. Isso não é só uma questão de posse material. Está mais para um viciado que não convive com a ideia de que o estoque acabou. É como o fumante que, mesmo morando ao lado da padaria, precisa deixar um pacote de cigarros guardado em casa “para uma emergência”. Eu tenho muitos livros “para uma emergência” – para o caso de eu, que tenho amizade forte por livros, ficar sem uma alternativa de leitura.
Ainda não tenho a quantidade de livros que Cortella possui, mas certamente chegarei lá. Imagino que muitos leitores também. A maioria de nós pelo menos intenciona ter muitos e muitos livros.
Quantos livros você tem?
Cada um com sua mania. A minha são os livros – e creio que a do leitor também seja. Tê-los gera uma sensação agradável. É indescritível aquilo se sente ao olhar e admirar a própria pilha ou estante de livros. É por isso que nada se diz quando do êxtase da contemplação. Apenas se sente.
Não intenciono com esse breve texto me candidatar à tarefa hercúlea de explicar a razão de se ter tantos livros. Apenas temos e continuaremos tendo em nível cada vez maior. A razão desse acúmulo de obras reside no íntimo dos leitores mais apaixonados, ensejando num sentimento que é compartilhado entre esses num silêncio intraduzível. É o gosto que não se traduz com palavras. O explicável está apenas em nosso íntimo, pois quando externalizado, soa incompreensível. Claro que compartilhamos nossas vontades com palavras, manifestando o querer de sempre se ter mais livros na estante. Temos o maior prazer em receber visitantes que se interessam pelos títulos presentes em nossas prateleiras. Tentamos explicar as razões pelas quais continuamos comprando novos livros enquanto já temos dezenas ou centenas de outros que ainda não foram lidos, mas as explanações sequer convencem a nós mesmos. Buscamos dialogar com acumuladores, colecionadores, amantes e apaixonados por livros, os motivos que nos alegram em possuir tantos títulos. Sim, há uma boa intenção em externalizarmos com palavras nossas motivações em ter sempre mais e mais livros – que por mais que possam ser diferentes, num determinado nível sempre vão se encontrar por semelhança. Mas não basta. É insuficiente. O principal é somente sentido. É lá no fundo dos nossos espíritos de leitores que a verdadeira explicação reside. E lá deve ser mantida, pois não possuímos a mínima capacidade de compreensão de algo que não existe para ser explicado.
Ter muitos livros é uma forma própria de felicidade. Cortella diz que felicidade é sentir-se vivo. Se assim de fato é, podemos dizer que a contemplação dos nossos vários livros proporciona uma felicidade tremenda, portanto, nos sentimos vivos. Somos vivos. Vivemos a literatura, nossos livros, os diálogos, debates e reflexões que as obras proporcionam. Respiramos os nossos livros – e isso inclui aquele cheiro característico de um exemplar novo na nossa estante que todo bom leitor muito bem conhece. O ‘ter muitos livros’ faz parte da condição de leitor apaixonado. E a quantidade não se mede – ou pelo menos não se compara. A famosa e invejável biblioteca pessoal de Umberto Eco causa a mesma admiração que muitos familiares, amigos e conhecidos têm da sua estante de livros. Ter um cantinho destinado aos próprios livros empilhados ou toda uma parede repleta de obras é motivo de igual orgulho. Sim, devemos ter orgulho dos nossos muitos livros. De certa forma, eles são parte de nós, merecendo o devido cuidado que só pode ser proporcionado pelo leitor fiel.
Para muitos, ter muitos livros pode soar incompreensível ou até mesmo ser interpretado como uma atitude irracional. Que seja. Acumuladores, exagerados ou como queiram nos taxar. O importante mesmo é que não faltem livros. Seja como for, os nossos muitos livros sempre podem servir para uma emergência. E ela surgirá. Que tenhamos os muitos livros para nos acalentar em todo e qualquer momento.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
CORTELLA, Mario Sergio. Viver em Paz para Morrer em Paz: se você não existisse, que falta faria? 1ª Ed. São Paulo: Planeta, 2017.
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