Os momentos agradáveis de leitura devem ser aproveitados ao máximo, principalmente quando se considera que as interrupções podem surgir inesperadamente. E elas aparecem, as interrupções, quando menos ou mais se espera.
Interrupção aqui pode ser compreendida em mais de uma forma, uma vez que há tipos e tipos de leitores que estabelecem diferentes graus de ‘potencialidade interruptiva’ sobre diferentes situações – a depender de cada uma delas. Para alguns, por exemplo, o barulho da televisão ligada ao fundo, por mais baixo que esteja, pode atrapalhar o ato da leitura, enquanto para outros é perfeitamente possível ler qualquer livro num ambiente de tumulto e gritaria. Vai do espírito (ou ainda do seu estado) de cada um. Assim, a interrupção para o leitor do primeiro exemplo poderia ser compreendida como qualquer ruído irritante que surgisse durante a leitura, enquanto que para o do segundo caso a interrupção seria entendida apenas quando numa situação em que fosse necessário fechar o livro que estivesse em mãos.
Há também outras formas de interrupção, como as dessas situações hipotético-concretas:
(I) O leitor pode ter ansiado o dia todo para que a noite chegasse, momento em que finalmente sentaria em sua poltrona, estando sozinho em casa, com uma fumegante xícara de café ao seu lado, abrindo aquele livro empolgante na página em que havia parado na noite anterior para seguir dali por mais algumas horas de leitura. E assim faz. Entretanto, nos primeiros dez minutos que ali está, num tempo tão curto no qual que sequer o café foi bebido até o fim ou o líquido ainda presente na xícara pudesse ter amornado, uma visita inesperada (e indesejada) chega, interrompendo a leitura.
(II) O leitor observa um assento vago no ônibus e se dirige até ele, onde ali senta. O livro, guardado em sua mochila – da qual é retirado, é aberto para que a leitura possa ser feita do ponto de origem até o destino do leitor. Meia hora de trajeto, em média, é o tempo estimado, de modo que é possível avançar em algumas páginas daquele empolgante capítulo em que se situa o leitor. Entretanto, assim que o livro é aberto, a pessoa que está sentada no assento ao lado começa a puxar conversa – e não aquele tipo de conversa meramente cordial do tipo “bom dia” ou “será que chove hoje?”, mas aquela em que exige verdadeira atenção dos interlocutores. Com a insistência do passageiro para com a conversa, nada resta ao leitor que não fechar o livro e seguir com o diálogo até quando o primeiro deles descer do ônibus.
(III) Final de semana e o leitor senta no sofá com aquele bom livro em mãos. Todos da casa sabem que aquela pessoa que está concentrada, com os olhos votados para as páginas da obra, estando então imersa num mundo próprio, de modo que as interrupções deveriam ser evitadas. Mas é claro que elas acontecem. A cada instante, um membro da família pede algo ao leitor, interrompe-o para contar alguma coisa, liga o aspirador de pó justamente na hora da leitura. E assim as várias pequenas interrupções impedem o leitor de prosseguir com a leitura conforme havia programado.
São casos e casos, situações e situações. O leitor anseia para que aquele momento possa ser somente seu. A leitura exige certa dose de atenção, de modo que o tempo em que se lê deve ser algo que pertence somente ao leitor e ao livro. A pretensão, porém, muitas vezes não se concretiza diante das interrupções que podem surgir a todo e qualquer instante. A expectativa da leitura, dizendo aqui com relação ao tempo em que se reserva para o ato de ler um bom livro, muitas vezes pode ser frustrada. O que resta ao leitor é respirar fundo, contextualizar a situação (para medir se a interrupção é realmente necessária e permitida) e postergar a leitura para um momento posterior – isso ou mandar todos às favas para zelar por aquele momento único em que a leitura preenche todo o espaço e tempo.
A forma com a qual cada um lida com as interrupções varia de leitor para leitor. O sorriso amarelo, meio que de canto da boca, com o pesaroso fechar do livro para que a atenção deixe de ser focada na história que estava sendo até então lida, passando a se situar no responsável pela interrupção, é uma das alternativas que o interrompido possui. Se for alguém mais parcimonioso, provavelmente essa é a atitude tomada. Mas há também quem opte pelo surto sadio – os berros de “cala a boca, pois estou lendo”, “não me atrapalhe” ou ainda “você não está vendo que estou lendo?” interrompem aquilo que estava a interromper a leitura, buscando assim o leitor a preservar por aquele momento seu em detrimento daquilo que levou a ser interrompido.
Fatores de todas as montas podem resultar em interrupções da leitura. O bom leitor deve estar sempre preparado para lidar com cada uma dessas variadas situações. Interromper a interrupção ou postergar a leitura – isso vai de cada um.
Como é que você faz?
Fonte da imagem:
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