Muitas das frustrações que enfrentamos se dão por conta das expectativas que nós mesmos criamos. No mundo literário não é diferente. Alguns livros nos frustram – pelas mais variadas razões. A pergunta a ser feita é: a culpa por essas eventuais frustrações estaria nos livros que não nos conquistaram a contento? Nem sempre.
Assim como as pessoas, os livros também desapontam. São objetos inanimados, mas que ainda assim estão repletos de vida, o que os leva a ensejar consequências concretas para as pessoas que os leem. Alegrias e tristezas. Euforia e sonolência. Encantamento e… frustração! Como dito, os motivos para o desagrado são diversos – alguns residindo na própria obra, enquanto outros advêm do estado de espírito demasiadamente eufórico com o qual o leitor toma um livro em mãos. Nesse caso em que a expectativa é criada, o sentimento prévio de êxtase oriundo dessa situação pode ruir com fulgor, resultando num lastimar pelo não alcance daquilo que se esperava.
O que determina a criação da expectativa? Quando ela é potencializada pelo leitor a ponto de a culpa ter de ser dividida com esse (ou ainda transferida totalmente)?
Um determinado livro pode receber diversas críticas positivas, ganhando assim notoriedade nas redes até que chegue ao conhecimento do leitor em questão. Pelo contato tido com as notícias e mensagens comentando positivamente o obra, o leitor acaba se vendo seduzido pelas opiniões, tendo assim despertado seu interesse naquele tão falado livro. Com isso, ao buscar a referida obra, o leitor já parte do princípio que aquela será uma excelente leitura. A expectativa já é criada antes mesmo de o livro começar a ser lido.
Residiria aí o perigo que dá campo para a frustração?
O risco é inerente a toda e qualquer opção que se faz. A escolha de determinada obra é sempre uma aposta. Almeja-se que o conteúdo que o livro escolhido contém agrade minimamente o leitor. O grau do eventual desapontamento, porém, depende sempre da quantidade de expectativa que foi criada sobre a leitura.
Aquele livro que os amigos próximos recomendam podem não soar tão agradável como fizeram parecer. O novo lançamento do escritor favorito pode acabar desagradando, mesmo quando todos os seus últimos livros tenham contagiado positivamente diversos leitores. Uma mesma obra pode ser sinônimo de perfeição para um, enquanto significa um verdadeiro desastre para outro. A forma com qual o livro é analisado pelo leitor também pode influenciar na sua percepção sobre a leitura, afinal, a depender dos critérios estabelecidos, o resultado que atende ou não a expectativa criada pode variar – está se levando em conta o enredo, a narrativa, o estilo, a eventual mensagem transmitida ou a construção das personagens na análise?
Para além de tentativas objetivas de análises de obras literárias, o subjetivismo acaba sempre se fazendo presente na recepção e percepção de um livro. De igual modo, sempre se espera por algo. Daí que a expectativa é condição inerente da escolha que se faz quando da opção por um determinado livro para se iniciar a leitura. Não se foge dela. Nesse sentido, a frustração é uma possível fatalidade que reside no ato de se apontar para o próximo livro a ser lido. Não há culpa a ser lançada, portanto – a não ser, talvez, quando a expectativa seja exacerbada por conta da influência que o leitor permite ser tomado em decorrência de fatores e circunstâncias que o envolvem (recomendações, críticas, propagandas e afins). Aqui é que seria possível observar os diferentes graus de expectativas que ensejariam em diferentes níveis de frustrações – quando fosse o caso de se fazerem presentes – a fim de regulá-las.
Seja como for, o fato é que as expectativas literárias frustradas constituem um fenômeno do qual não se pode fugir. Uma história que não atrai, uma escrita intrincada, o excesso de formalismo na linguagem (ou a pouca atenção dada às formalidades mínimas), um enredo que não surpreende, uma abordagem amorfa, um final infeliz ou ainda diversas outras possibilidades são algumas das razões que podem ser elencadas como justificativas para a frustração. Para alguns, talvez finais alternativos ou enredos diferentes para uma mesma história que não existem nesse mundo (possíveis apenas em algum universo literário paralelo) seriam a solução para contornar a frustração. Mas como ainda não se tem conhecimento sobre a possibilidade de acesso a outros universos literários, o que resta é lidar a contento com as frustrações literárias, pois são inerentes da vida de todo e qualquer leitor.
As expectativas literárias deveriam então ser suprimidas para que as eventuais frustrações também assim fossem? Não é o caso de se adotar medida tão grave e drástica. Como mencionado, ambas as situações, expectativas e frustrações, são condições presentes no processo de leitura e suas escolhas das quais não se foge.
Medir a dose daquilo que se cria e se tem minimamente o controle talvez seja a saída mais adequada, mas desde que ciente que um fundo mínimo disso tudo sempre rondará o fenômeno da leitura e suas escolhas.
Fonte da imagem:
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“Como mencionado, ambas as situações, expectativas e frustrações, são condições presentes no processo de leitura e suas escolhas das quais não se foge.” do autor. Observei uma real e objetiva evolução no amadurecimento do tema em foco parabéns!
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