OBRA DE ARTE DA SEMANA: Coroa-relicário dita de São Luís ou Coroa de Liège


Coroa-relicário dita de São Luís ou Coroa de Liège
, prata dourada e pedras preciosas, 3o quarto do século XIII. Conservada no Museu do Louvre, Paris, França.

A coroa-relicário de São Luís, conservada desde 1947 no Museu do Louvre, em Paris, figura entre as peças de ourivesaria mais famosas do mundo. Inclusive, principalmente durante o século XVII e XVIII, acreditava-se de que se tratava da coroa verdadeiramente usada pelo o rei santo francês que a nomeia. Entretanto, o objeto foi encomendado por ele, mas não no intuito de servir como adereço humano, mas sim para abrigar relíquias santas.

O pio São Luís havia participado das Cruzadas na Terra Santa e comprou em Constantinopla diversas relíquias, dentre elas a coroa de espinhos do Cristo, construindo a Saint-Chapelle, capela real decorada de belíssimos vitrais, especialmente para abrigá-la. Pequenos partes dessa e de outras relíquias foram retiradas e presenteadas em relicários preciosos como é o caso da obra que estudamos hoje, criada para ser dada aos dominicanos de Liège – o outro nome da peça, Coroa de Liège se deve à este fato.

Essas relíquias foram colocadas em receptáculos fechados atrás dos anjos e o conteúdo de cada um deles é revelado através das inscrições nos filactérios – bandas de pergaminho desenrolado – e livros que as pequenas estátuas nos mostram. Além da coroa de espinhos, há também outras relíquias da Paixão do Cristo, um pedaço da lança com a qual o Cristo teria sido atingido enquanto crucificado e outro da própria cruz –  « Le ligno », « De corona Dû », « De lancea Dû» – , e ossos de santos não identificados. As inscrições só nos explicam que trata-se de um mártir, uma virgem, um confessor e um apóstolo: « De Martirib », « De virginib », « De côfess », « De apostoli ».

É provável que o formato da peça se deva ao fragmento da coroa de espinhos do Cristo, uma das relíquias mais importantes que abriga. Acredito que também seja possível haver uma ligação entre sua forma e o fato de a joia ter sido encomendada pelo rei, sobretudo quando notamos a presença de flores de lis, símbolo do brasão real, sobre as placas quadradas entre os anjos. Entretanto, há outras coroas relicários que são encabeçadas por esse símbolo e não possuem ligação com a monarquia francesa, havendo outros significados religiosos relacionados a ele.

Ainda é interessante notar que apesar de sua cor, o relicário não é de ouro. Se trata, na verdade, de prata dourada. As pedras preciosas que o decoram são polidas, como acontecia durante toda a Idade Média, ao invés de lapidadas, e testemunham a herança da ourivesaria refinada dos ditos povos bárbaros que influenciaram todo o período.

Quanto ao seu local de fabricação, pensou-se muito tempo que a peça provinha de um atelier de Paris, pois sua decoração floral e a influência da estatuária que vemos nos pequenos anjos seguem o estilo parisiense. Entretanto, não há registro de ourives em Paris no reino de São Luís e chegou-se a conclusão de que os anjos possuem um aspecto provincial, as dobras de suas vestes são mais delicadas do que no caso dos objetos da capital, além das pequeninas folhas de carvalho em meio à pedraria, sendo assim uma produção de uma oficina na própria cidade de Liège, hoje na Bélgica.

Assim, trata-se de um objeto de extrema beleza e qualidade técnica que testemunha a devoção de São Luís e sua veneração pelas relíquias da Paixão

Bibliografia/Links:

BARBIER, “Couronne-reliquaire dite « Couronne de Liège » ” in RMN, [Online]. Consultado em 13/05/2019.
https://www.louvre.fr/oeuvre-notices/couronne-reliquaire-dite-couronne-de-liege

« Couronne-reliquaire dite de saint Louis » in RMN, [Online]. Consultado em 13/05/2019.
https://art.rmngp.fr/fr/library/artworks/couronne-reliquaire-dite-de-saint-louis_pierre-fine_argent-metal

DESCATOIRE, « L’orfèvrerie et l’émaillerie » in Dossier de l’art, Paris, Faton, No. 152 (Maio 2008), p. 246-257.

ERLANDE-BRANDEBURG, “La couronne-reliquaire du Musée du Louvre” in Bulletin Monumental, vol. 127, N. 4 (1969), p. 335-336.
https://www.persee.fr/doc/bulmo_0007-473x_1969_num_127_4_6748

PAZZI, « Charme e lusso negli ori di Francia » in G. GUADALUPI, I grandi tesori : I capolavori dell’oreficeria attraverso i secoli, Bergamo/Torino, Edizione White Star, 1998, p. 38-45.

VERLET, « La couronne-reliquaire de saint Louis récemment entrée au Musée du Louvre » in Comptes rendus des séances de l’Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, Ano 91, N. 3 (1947), p. 554-555.
https://www.persee.fr/doc/crai_0065-0536_1947_num_91_3_78173

 

Fonte das imagens:

https://art.rmngp.fr/fr/library/artworks/couronne-reliquaire-dite-de-saint-louis_pierre-fine_argent-metal

 

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