Daremos início a uma série de introdução à Teoria da Literatura. Serão, de início, quatro textos, falando de Roland Barthes, Lucien Goldman, Theodor Adorno e Walter Benjamin, e de como estes encaram a literatura. (em uma exceção, os textos serão semanais e não quinzenais.)
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A obra de arte, no nosso caso a literatura, sempre sofreu uma espécie de contiguidade interpretativa entre o autor e sua obra. Ficávamos reféns de interpretações que buscavam no autor e na sua subjetividade a explicação para seu romance, seu poema, etc. Isso diminuía o objeto em análise por ficar dependente de seu autor, revelando-se portanto sem uma autonomia necessária para um estudo pleno daquela obra. Essa ideia se configurou até a virada do século 19 para o 20, quando surgem os primeiros passos do que se chamaria de teoria da literatura. A partir de então, com os formalistas russos, a obra passa a ser estudada por ela mesma, sem depender de fatores exógenos como a própria subjetividade do autor ou da autora, sem depender também de seu contexto histórico.
A reclamação de Umberto Eco ecoa uma reclamação que Roland Barthes sistematiza em seu texto “A morte do autor”. Para ambos, o autor enquanto sujeito social, por exemplo, o escritor Umberto Eco, que escreveu O nome da rosa, carrega consigo marcas sociais como prestígio ou execração (não dizem com essas palavras, mas a ideia é essa); além disso, como dito acima, o sujeito Umberto Eco tem uma biografia, como todo mundo, mas essa biografia não deve mais ser balizadora de avaliação da obra O nome da rosa. Esta deve ser analisada de maneira autônoma, independente, como um objeto de estudo próprio.
Para isso, Barthes se vale do que chama de escriptor, uma entidade abstrata que se situa entre o autor, entidade biográfica e empírica do mundo real, e o narrador, entidade ficcional pertencente exclusivamente ao objeto artístico. A escrita se liga ao escritor enquanto a morte do autor, a obra já pronta, autônoma de significados, é a escritura, relativa ao escriptor.
A partir disso, um outro elemento passa a fazer parte da obra e do processo de leitura como um todo: o/a leitor/a. A leitura, para Barthes, é sempre um recomeço, e aqui tem a ver com a ótica de cada leitor ao se deparar com uma obra. Isso remete ao que várias vezes se fala sobre os estudos literários de que a leitura nunca é a mesma; quando revisitamos uma obra, a leitura é diferente porque nossa experiência de vida é outra e mais diversa, e nosso contato com a obra passa a ser obrigatoriamente diferente. A obra não tem arché (uma origem, um começo) e passa a situar autonomamente nos sistemas literários e passível de diversas interpretações dependendo da leitura que é feita daquela escritura.
Barthes, ao propor a morte do autor como uma estratégia metodológica, ajuda a consolidar a literatura como um campo de estudos próprio, com objeto específico e autônomo em relação a seu escritor e também ao contexto histórico no qual foi gestada.
Rodrigo Mendes
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