Cada livro possui uma história própria a ser contada. Essa história supera aquela que consta narrada pelo autor nas páginas que compõem a obra, pois o livro em si representa um algo a mais, uma particularidade pelo fato de que cada qual possui a sua história. Por mais que vários sejam os exemplares, as cópias de uma mesma obra impressa, cada um desses livros constitui um algo próprio que o torna único.
Os livros buscam ser lidos. Constantemente. Há uma espécie de linguagem que pertence às obras literárias que somente é falada e compreendida pelos livros. Que não se engane com o aspecto estático dos tantos exemplares que cada pessoa possui em sua estante. Por mais que parados estejam, os livros estão num constante processo comunicacional que somente pode ser captado no âmbito do universo a que eles pertencem. Para que se possa participar desse diálogo exclusivo, somente sendo um livro.
Diante desse cenário literário que aqui se expõe, há de se prestar a devida atenção às particularidades de cada livro. As obras nascem já dentro de um contexto, pois a essência dessas precede à existência. São criadas para serem lidas, consultadas, referenciadas, dialogadas, debatidas. Mas mesmo que assim seja, há diferenças que podem ser agrupadas por certos nichos, dizendo-se aqui como para além dos gêneros literários existentes. Dentro da própria categoria romance, por exemplo, há aqueles livros que foram escritos por autores já conceituados, famosos, conhecidos. A recepção desses tende a ser muito maior do que aqueles escritos por escritores não tão badalados. Os best sellers recebem assim uma categoria própria, independente da fama prévia de seu autor, pois a notoriedade pode se iniciar justamente a partir de uma obra dessa espécie. Têm-se assim então diversas formas de se compreender e estabelecer os enquadramentos possíveis em que cada livro se situa, de modo que mesmo que haja essa catalogação, e mesmo sendo o livro criado destinado para um fim determinado, não se pode desconsiderar as particularidades que constituem cada qual, deixando-se de dar a atenção específica que cada tipo de livro clama para que lhe seja dada.
Pode se pensar aqui naquele livro de poucos leitores. Aquele livro que o leitor possui a impressão de que foi a única pessoa do mundo que já o leu. O livro é tão desconhecido que não se encontra ninguém para dialogar a respeito. Essa obscuridade da obra muitas vezes não a acomete pelo fato de o livro ser ruim. Diversas são as situações em que o livro é ótimo, é excelente, mas que ainda assim, por razões tantas, não repercute a ponto de possuir uma gama de leitores, levando o único e isolado leitor à angústia de não ter alguém com quem possa efetivamente conversar a respeito. A conversa é até possível, mas como monólogo, ficando pendente o diálogo concreto digno daquela obra. Nesse caso, dado o fato de o livro ser pouco lido, consequentemente desconhecido no meio literário, exige-se aí uma atenção toda especial para lidar com a obra em questão.
O livro existe enquanto se é utilizado para o fim que se destina. A obra literária é predestinada, por assim dizer. O livro é para que seja lido, para que seja lembrado, para que seja objeto de discussão. Daí que os livros famosos, os conhecidos, os populares, os cultuados acabam não sofrendo desse mal. A discussão a respeito deles é ampla. Fala-se dessas obras nas livrarias, nos eventos literários, nos cafés, nas rodas de conversa, nas redes sociais, enfim, a discussão a respeito desse tipo de livro está sempre em voga. O mesmo não ocorre, porém, com os livros obscuros.
Os livros de poucos leitores sofrem com uma forma de angústia que existe apenas no universo literário em que estão situados. Muitos estão com os dias contados – a partir do momento em que não mais existir aquele único leitor que o lê ou que ao menos recorde minimamente do seu conteúdo, consequentemente também deixará de existir. Alguns desses sequer têm certeza se ainda possuem uma alma – são ainda espíritos presentes que fazem parte do universo literário ou apenas estão representados por seus poucos corpos na forma de algumas obras impressas que objetivavam ser algo que não foram plenamente? Até quando aquele único leitor ainda será o seu leitor? Eis a angústia, que beira a crise existencial, que acomete aqueles livros de pouquíssimos leitores.
É função então do único leitor daquela determinada obra conferir a especial atenção merecida ao livro. Enquanto vívida na mente do sujeito, estando presente como algo a mais que um mero ornamento na estante, aquela obra que aparentemente apenas o único leitor leu estará cumprindo a sua função nesse mundo. A história do livro é particularizada tanto em seu conteúdo quanto naquilo que é representado pelo exemplar que o leitor possui. Por mais que não se encontre alguém que também tenha lido aquele livro obscuro, compete ao leitor auxiliar de qualquer modo pela permanência existencial daquela obra – no plano do leitor e no plano do livro -: falando-se a respeito, indicando-a, criticando-a, resenhando-a, enfim, independente de como seja feito, que se mantenha viva a obra.
É nesse sentido que a especial atenção deve ser dada aos livros de poucos leitores (ou quase nenhum). As obras agradecem!
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O hábito de uma ótima leitura está em desuso, sendo somente utilizados para uso acadêmicos, infelizmente
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