A lógica do reality show e uma implicação para o presente

Estava lendo um jornal hoje e me deparei com a seguinte manchete: “Trump demite diretor de segurança cibernética por negar fraude: Christopher Krebs foi destituído via Twitter após a agência federal anunciar que estas foram as eleições mais seguras da história”. A primeira coisa que fiz foi rir, claro, mas aí lembrei que estamos no mundo da desinformação (o oposto ao que Edi Rock fala no início de Raio X Brasil, 1993, do Racionais MCs), e lembrei também de como essa lógica da mentira, da contrainformação, tem se mostrado uma arma potente do sistema de dominação capitalista para a perpetuação da desigualdade social.

A potência dessa arma ideológica é combater no plano da subjetividade dos sujeitos, armando um simulacro, uma bolha na qual os imersos reproduzem as ideias dos mandatários. No Brasil isso aconteceu desde sempre com as e os negros escravizados quando se falou – e se fala – em democracia racial, a mentira dos brancos contada de que “há igualdade racial no Brasil”.

Esta lógica de fake news impera nos EUA, como vimos, e também no Brasil. Daí a necessidade da conscientização constante, que vem ora da arte, ora da militância, etc. Trump faz política no Twitter, rede social simulacro, e Bolsonaro imita, com todas as contradições brasileiras.

A questão para o cinema é a seguinte: essa lógica de simulacro político e social, que perpetua as desigualdades sociais, raciais, de gênero, influencia o cinema e a crítica cinematográfica contemporânea? Temos exemplos de filmes que explicitam esse jeito de fake news, de propaganda alienante, em sua forma?

Já comentei uma vez, mas O bandido da luz vermelha trabalha nessa linha, numa organização narrativa caótica, polifônica, que parece visar atrapalhar o telespectador, sabotá-lo. Esse filme seria uma prévia, no campo da arte, da lógica do reality show, que é um simulacro da realidade? Holy motors, pela metamorfose ambulante e somatório de pequenos simulacros, seria outro exemplo, quase 50 anos depois?

Essa lógica de rede social que vemos nos reality shows, que suprime a experiência humana daqueles “sujeitos”, é quase onipresente em programas de canais fechados, imitando a “vida” de vários extratos sociais. E vemos algo parecido no plano real, social do mundo, na política institucional. A pergunta para o cinema e para outras artes é: o quanto isso impactou ou vai impactar nas obras de arte?

Rodrigo Mendes

 

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