Museu dos relacionamentos acabados, dos corações despedaçados…
Localizado no coração do bairro dos museus em Zagreb, capital da Croácia, o museu traz uma proposta inovadora, questionando o conceito mesmo de museu, de artista e de arte. O nome curioso esconde um conteúdo ainda mais curioso. Sua coleção é composta de objetos doados pelo público, que testemunham o final de um relacionamento e são sempre acompanhados de um depoimento escrito, ora longo e explicativo, ora simples e poético. Objetos dos mais variados, desde pequenas simplicidades do quotidiano até objetos altamente significativos, tal um vestido de noiva e um contrato de casamento. Testemunhos esquecidos do final doloroso de uma vida em comum. Até vibrador tem!
O conceito surgiu em 2006, graças à iniciativa de Olinka Vištica e Dražen Grubišić, ambas desejando expressar suas dores de maneira criativa. Desde então, a coleção não para de crescer, devido as suas exposições itinerantes que já passaram por diversos países, dentre eles, França, Inglaterra, Turquia e Argentina. A cada uma dessas viagens, habitantes locais são convidados a dividir sua história, doando objetos ao museu. Qual será o futuro dessa coleção de objetos que cresce em progressão geométrica? Espaço para arquivar tantas obras de arte de criadores anônimos pode ser um problema no futuro.
As criadoras do projeto tiveram em 2011 seu trabalho reconhecido pelo Kenneth Hudson Award, recebendo o prêmio de melhor museu europeu do ano.
O museu é dividido em salas temáticas relacionadas aos sentimentos e situações que representam os objetos ali presentes. As paredes imaculadamente brancas ostentam somente os títulos das salas e frases escolhidas dos depoimentos. Sobre suportes brancos iluminados repousam placidamente os fatídicos objetos. Ao lado de cada um deles, uma etiqueta explica ao visitante, em croata e em inglês, sua história, contada por seu infeliz doador. No alto, um título, o tempo de duração do relacionamento em questão e a cidade e o país de sua ocorrência. Embaixo, um pequeno (ou longo) texto explica a relevância do objeto como testemunho de um amor despedaçado. Esses escritos são tão variados quanto seus respectivos objetos.
A título de exemplo, a sala dedicada aos relacionamentos à distância apresenta uma mala, sapatos, uma nota de cem coroas suecas e até mesmo uma bicicleta. Outra sala, bem peculiar, denominada “vítimas do desejo”, mostra objetos eróticos e ligados a fantasias sexuais. O corredor da raiva e violência ostenta um imenso e assustador machado. O visitante viaja em sua imaginação…
O mais pesado é certamente o espaço ligado à morte. Dentre outros objetos igualmente melancólicos, encontra-se uma rude chave em metal, ladeada pelos seguintes dizeres: “ Você me falou de amor, me deu todos os dias pequenos presentes; este é apenas um deles. A chave para o coração. Você virou minha cabeça; você somente não queria dormir comigo. Eu percebi o quanto você me amava só depois que você morreu de AIDS”.
Os curadores do museu, em seu site, levantam a questão do porque da doação desses objetos. Seria um simples gesto de exibicionismo? Um ato quase terapêutico? Curiosidade? Eu adicionaria a essas possibilidades a palavra VINGANÇA! Imaginem um indivíduo que se diverte despreocupadamente em sua visita ao museu, e de repente se depara com, digamos, o ursinho que deu a ela no primeiro encontro, o belo relógio com o qual o presenteou no primeiro aniversário de namoro, seu álbum de casamento, bem ali, exposto aos olhares inescrupulosos de todos os visitantes! Seria uma surpresa e tanto descobrir que seu tão (ou nem tanto) esquecido ex doou ao museu um pedaço íntimo de suas vidas compartilhadas.
Brasileiros de corações despedaçados sejam pacientes, a exposição promete, em breve, visitar nosso abençoado país. Separem seus objetos. Doações certamente não faltarão!
Um comentário sobre “Museum of Broken Relationships : Um cemitério de objetos e amores perdidos”