Giovanni Boldini, Dançarina Espanhola no Moulin Rouge, óleo sobre tela, 101.92 x 125.1 cm, 1905. Coleção particular.
Giovanni Boldini (31 de dezembro de 1842 – 11 de julho de 1931) é um desses artistas que passam despercebidos pela história da arte e quando são descobertos pelo público nos deixam maravilhados com a força de sua obra. Um artista com uma vida dupla: durante o dia, um retratista renomado e bastante solicitado; à noite, um frequentador da vida noturna parisiense. Um artista underground, com uma obra passional, sexy, obscura e fashionista. E hoje iremos mostrar o lado “pesado” de Boldini.
Boldini era filho de um pintor italiano de Ferrara, de gêneros religiosos. Em Florença, no ano de 1862, estudou pintura e teve contato com os artistas pertencentes à escola Realista. Os primeiros trabalhos de Boldini, com paisagens e retratos, o levam a ter fama em Londres, como retratista. Após 10 anos, em 1872, Boldini passa a viver em Paris e torna-se amigo de um gigante da história da arte, Edgar Degas. No final do século 19, Boldini é um dos retratistas mais procurados e famosos, com um estilo único de pintura, unindo o Realismo que desenvolveu em Florença e em Londres com o Impressionismo que ganhava força em Paris.
Giovanni Boldini é comumente rotulado de pintor acadêmico, realista. O que é duvidoso, pois ao analisarmos suas obras, principalmente a partir de 1900, nota-se que é muito difícil classificar o trabalho de Boldini dentro de um único estilo. Ele pertenceu, sim, à escola Parisiense, mas não dentro de somente uma vanguarda. E prova disso é a obra escolhida para a coluna semanal: Spanish Dancer at the Moulin Rouge (Dançarina Espanhola no Moulin Rouge).
Quem conhece o trabalho do artista, saberá que esse tipo de retrato é recorrente em sua obra, mas o que difere “Dançarina Espanhola no Moulin Rouge” de outras obras, é que nele o artista explorou todos os recursos da pintura francesa disponível na época. Lembramos que o ano da obra é 1905 e Paris era a capital mundial da arte. Os maiores nomes da arte moderna estavam em plena atividade na capital francesa. E o quadro de Boldini parece conter de tudo o que estava acontecendo à sua volta. Boldini era conhecido como “Master of Swish” ou em tradução livre, Mestre da Chicotada, quer dizer, pintava golpeando a tela violenta e precisamente para apresentar uma gama de texturas, cores, vibração.
Começando pela iluminação da tela: Boldini tinha influência impressionista, porém o seu interesse era com a luz artificial, a luz do espetáculo, e o primeiro impacto em relação à obra é de natureza emocional. Podemos perceber que embora o rosto e o busto da modelo sejam os únicos elementos que poderíamos chamar de acadêmicos, apresentam contraste muito escuro e com passagem de cores que só são possíveis com uma técnica muito apurada na pintura tradicional. Daí por diante, cada elemento da composição abre variadas possibilidades de análise. O vestido é todo ornamentado e o artista o constrói com linhas e pinceladas rápidas e fortes. A posição reclinada da mulher na cadeira não é perceptível, pois o fundo se mistura em formas completamente abstratas e o vestido desvanece misturando-se ao restante da composição. Todos os elementos já citados tornam “Dançarina Espanhola no Moulin Rouge” uma grande obra de arte, mas isso não é tudo.
Em uma análise mais detalhada, percebe-se uma mão no ombro direito da modelo que não pertence a ela. E ao lado de seu rosto, um rosto que lembra muito os construídos no Cubismo. Algumas teorias são de que a modelo mudou de posição, mas nunca saberemos a verdade nisso. O que podemos afirmar é que Boldini era um pintor do movimento. Em sua pintura encontramos a pintura tradicional de retratos, o Impressionismo das bailarinas de Degas, o Expressionismo de Munch, e ainda assim sua obra não se parece com nada que já vimos na história da arte.