O poder da imaginação

A imaginação transforma, dá asas, providencia condições de possibilidades, enaltece, fornece diferentes modos de ver as coisas, estabelece novos paradigmas, enfim, é uma ferramenta importante do ser para se estabelecer como tal.

É graças a imaginação que temos a arte. Os romances só são possíveis por causa da imaginação posta em prática pelos escritores. Uma peça de teatro foi pensada inicialmente na mente de um dramaturgo. A ideia para a tela de um quadro surge antes na cabeça do pintor. Um filme é produzido com base num roteiro, o qual é escrito de acordo com ideias que surgem, ideias essas oriundas da imaginação.

A criação do ficcional é possível devido ao fato de alguém estruturar suas ideias, estabelecendo algo concreto advindo da imaginação. Imaginar é sonhar, é pensar para além do real. Mesmo quando algo imaginado se estabelece num chão de realidade, têm-se hipóteses como resultado do pensamento, e isso também não passa de imaginação.

A imaginação é algo inerente do ser humano. Todos pensamos em coisas. Isso já é o processo de imaginação trabalhando, o próprio ato do pensar. Costumamos enxergar a imaginação apenas quando pautadas em ideias ou hipóteses futuras, ou seja, sobre algo que não ocorreu. Mas ela trabalha também nas recordações. Sinto informar aos que pensam que possuem uma memória excelente e minuciosa de que a coisa não é bem assim. Claro que alguns tem uma memória mais robusta que outros, mas isso não significa que aqueles estejam imunes às armadilhas da imaginação.

A psicologia vem trabalhando há certo tempo com as chamadas falsas memórias. Diferente da mentira, onde a história narrada pelo mentiroso é sabida como falsa por esse, as falsas memórias constituem lembranças criadas que se situam na mente das pessoas, fazendo com que essas creiam verdadeiramente em sua memória no sentido de que o evento recordado de fato ocorreu. É a imaginação trabalhando e conturbando o passado na mente das pessoas. Diversos são os fatores que podem desencadear as falsas memórias no indivíduo. A problemática em cima de tal fenômeno é gritante. No campo jurídico, por exemplo, isso acaba atrapalhando depoimentos de testemunhas, acarretando em sérios prejuízo para todos os envolvidos num processo. Esse é um tema que requer estudo e trato com muito esmero, evidenciando apenas aqui que, conforme dizem os juristas Alexandre Morais da Rosa e Aury Lopes Jr., memória não é Polaroid. A imaginação se faz presente inclusive na memória.

Conforme dito no início do texto, a imaginação dá vida às coisas. E ela possibilita mudanças no plano concreto. Tomemos alguns exemplos ilustrativos.

Carl Fredericksen, o senhorzinho dotado de um humor peculiar da animação “Up – Altas Aventuras”, após ficar viúvo, passou a ver a vida somente na cor cinza. A felicidade que possuía lhe foi tragada sem piedade. Ficou só, passando a ser levado pelos dias que seguiam enquanto aguardava o seu próprio fim. Cansado das investidas de uma empresa que pretendia construir um prédio no lugar de sua casa, Carl usa a imaginação para dar adeus àquela vida enfadonha que vinha levando até então. Sua casa se transforma num tipo de dirigível quando Carl improvisa amarrando vários balões de gás nas estruturas do seu lar. O resultado é que sua casa sai literalmente voando, possibilitando à Carl uma nova perspectiva de conduzir sua vida. Foi a imaginação que possibilitou o rompimento de uma barreira na vida do senhorzinho.

Na literatura podemos tomar como exemplo o caso de Julien, protagonista de “O Vermelho e o Negro”, de Stendhal, o qual desde pequeno sonhava com uma vida bem diferente daquela que possuía. Julien fazia parte de uma classe social baixa, o que ao se analisar somente por tal fator se trataria de uma condição de impossibilidade para que sua imaginação tivesse um reflexo no campo prático. Mas essa questão foi superada. Julien se via num futuro imaginado de forma bem diferente daquela que o destino lhe reservava. Cumpriu ao próprio Julien estabelecer um plano de atuação prática para que o seu futuro ambicionado fosse alcançado. E assim o fez, logrando êxito no seu intento. Mas vale lembrar que o que possibilitou o tracejar de um plano a ser seguido no plano concreto por Julien foi a sua própria imaginação. Primeiro, as imagens mentais sobre aquilo que desejava, e somente depois a atuação efetiva com base naquilo que fora imaginado.

A imaginação possui um belo e terrível poder, o qual é intencionalmente (ou por mero acaso) paradoxal. Pela imaginação é possível incutir o medo – quando se diz a uma criança que o “bicho” irá pegá-la caso não seja obediente. Pela imaginação é possível mudar o futuro – quando se estabelecem hipóteses para a resolução de um problema e essas são testadas até que uma se demonstre como correta quando da aplicação prática. Pela imaginação é possível transformar uma mentira em verdade – quando a mente aceita como verdadeira uma história arquitetada ardilosamente. Pela imaginação é possível dar vida concreta a uma ideia – tal qual no presente texto, imaginado inicialmente de uma forma abstrata em minha mente, e ganhando vida e contornos quando do processo de escrita e agora enquanto publicado.

A imaginação, aquela que nos move…


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

LOPES JR., Aury. ROSA, Alexandre Morais da. Processo Penal no Limite. 1ªEd. Florianópolis: Empório do Direito, 2015.
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STENDHAL. O Vermelho e o Negro. Porto Alegre: Dublinense, 2016.
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